E de uma normalidade que passava, essencialmente, pelo regresso do festival ao ar livre — ou do regresso do ar livre ao festival, por uma vez o trocadilho acerta, pese alguma vulgaridade discursiva e retórica. Era aí que julho, verão, longos dias e extensos fins de tarde iam encaixar. Ao festival regressavam os encontros com os criadores, na esplanada da Escola D. António da Costa, pelas seis da tarde. Ao festival regressavam, e regressam, os concertos ao ar livre, na mesma esplanada, e que prolongam paragens na esplanada enquanto algumas pessoas vão jantando; este ano há concertos todos os dias, prolongando um prazer que acompanha, assim, o prolongamento do dia a entrar na noite, ela mesma cheia de promessas. Rodrigo Francisco não se cansava de acentuar a importância dessa vida na esplanada, intensa, animada, e motor de uma reorganização do pequeno tecido urbano que tem o festival, e o lugar da esplanada, como centro. São as pessoas que passam na rua e veem pessoas a falar com artistas ou ouvem música; são os comerciantes que veem os negócios render mais durante o festival, com os lanches e jantares fortemente aumentados; são os vizinhos que veem e ouvem coisas que ali se passam, que ouvem das suas casas e das suas janelas a música ao vivo na esplanada. E, se quiserem, as pessoas podem entrar, ficar ali e fazerem parte daquilo tudo, ou não. Podem continuar o seu caminho e, porventura, regressarão. É este microcosmo e é esta atitude que fazem a grandeza do festival, desde o seu início, em 1984, quando Joaquim Benite o criou para animar o centro histórico de Almada. O Festival de Almada começa ao ar livre, como sempre começou (a pandemia é a exceção), na noite do dia 4 de julho, no palco grande da Escola D. António da Costa — descendo as escadas que levam da esplanada ao interior do edifício, e regressando ao ar livre, mas a um outro ar livre, dentro da escola. Este ano começa e acaba nesse palco, com criadores que regressam e vão mantendo uma relação de continuidade. (...)».
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