«(...) Para o antigo diretor de Serralves, o grande desafio em Portugal passa pela necessidade de continuidade e sustentabilidade dos projetos. “O que torna os projetos fortes é a continuidade e a persistência e acabam depois por provocar um efeito-espelho”, constatou, considerando que só a sustentabilidade permite criar “uma paisagem e um legado”. “Os espaços não podem ser como foguetes”, notou, destacando que há “cada vez mais gente envolvida”, sejam instituições públicas, privadas ou particulares. Segundo Vicente Todolí, num país que não é rico, é muito importante que haja “grinta”, uma expressão italiana muito utilizada no ciclismo que remete para a "garra". Se no arranque do século, o antigo diretor do Museu de Serralves tinha dificuldade em captar público, hoje acredita que a situação já não se coloca, rejeitando por completo a ideia de as artes plásticas estarem mais afastadas do público.“Isso acabou. Agora a arte contemporânea é mais conhecida do que a arte clássica. O problema é que vão ver os artistas mais mediáticos e aí entramos na mercantilização”, notou. Para Vicente Todolí, que não gosta do mundo da arte, mas da arte em si, “há cada vez mais mercantilização da arte”. “O importante é manter a independência das instituições”, disse, apontando para casos de fundações que não dependem de receitas de bilheteira para compor o seu orçamento, como fundações associadas a grandes empresas ou instituições bancárias. “A parte comercial é também aquela pela qual os jornalistas mais pegam - os preços, os mercados. Todo o mundo contribui para isso. Enfim, é assim”, disse, encolhendo os ombros, o atual diretor do Hangar Biccoca, da Fundação Pirelli, em Itália. (...)».
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É isso, ó gente, e não é apenas para a «arte contemporânea»: «continuidade e sustentabilidade dos projetos» em CULTURA é fundamental. Mas o Governo insiste em enviar «tudo» para CONCURSOS. E aí os temos estilhaçados e para todos os gostos, e disso se orgulham os sucessivos governantes e seus executantes. E agentes culturais a concorrer, a concorrer, à míriade de processos concursais ... Qual a eficiência e eficácia de tudo isto? Mais que não fosse por uma questão de rigor intelectual, não deviam considerar as alternativas que nos conduzem a tratar O SERVIÇO PÚBLICO DE CULTURA COM A MESMA DIGNIDADE DOS OUTROS? Mas não, insistem em começar do zero, permanentemente, mesmo quando quem esteja em causa seja dos nossos melhores. Certamente, por exemplo, que Luís Miguel Cintra se quiser continuar a maravilhar-nos vai ter de concorrer em pé de igualdade com outros que começaram agora ... E se olharmos bem, não há concursos para todos: veja-se a escolha dos Diretores dos Teatros Nacionais ...
Perante todo este panorama, o que nos resta? Desde logo, não desistir de apontar que «o rei vai nu». Voltemos a assinalar agora que um novo ano escolar se aproxima: já se imaginou as escolas a candidatarem-se para que pudessem funcionarno próximo período letivo?
Ainda: o facto de não se defender «concursos» para tudo, não significa que não haja CRITÉRIOS. Devem existir e serem claros: concebidos e aplicados com o conhecimento disponível e por pessoas preparadas.
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