Disco duplo, somando 22 canções e mais de uma hora de duração, “Carta de Alforria” é provavelmente o projeto mais ambicioso de Plutonio, e aquele onde quer deixar para trás o estereótipo de homem criado em bairro problemático
Paulo André Cecílio
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Carta de alforria” é o nome dado ao documento que, na época da escravatura, concedia a liberdade a um escravo, que a podia receber do seu proprietário de forma gratuita, adquiri-la ou obtê-la mediante a prestação de um qualquer serviço. É, também, o nome dado pelo rapper Plutonio (João Ricardo Azevedo Colaço, 39 anos) ao seu novo álbum, o primeiro em nome próprio desde “Sacrifício: Sangue, Lágrimas, Suor” (2019). Uma escolha que se adivinhava há algum tempo: no videoclipe para ‘Duas da Matina’, single que faz parte da trilogia “Pão Na Mesa” (2021), é possível ver essas mesmas três palavras grafitadas numa parede — o disco andava a ser preparado desde 2019. E uma escolha, também, adequada quando se tem em conta as temáticas sobre as quais Plutonio versa neste seu novo álbum. Dir-se-ia que, com esta “Carta de Alforria”, o propósito máximo do músico do Bairro da Cruz Vermelha, em Alcabideche, é libertar-se dessa amarra (psicológica, social) que é ser estereotipado como “o gajo do bairro”.
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Boa questão [risos]. Primeiro, gostava de chegar lá, juntar-me com as pessoas de lá, e perceber quais é que são os maiores problemas que eles enfrentam neste momento. Porque é que não resolvem certos problemas que eu acho que, para mim, se calhar são fáceis de perceber. E explicar a minha perspetiva sobre o porquê da forma que eles têm atuado não resultar para Alcabideche, no todo. Então, acho que a primeira coisa é uma conversa que ligue os dois mundos e, depois, quando percebermos que os dois mundos fazem parte do mesmo, avançarmos para um melhor. (...)».
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