quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

TODOS TEMOS UM BAIRRO A QUE CHAMAMOS SEMPRE NOSSO | para cada um «fortalecer a identidade artística e cultural»? | SOBRE ISTO ESTAMOS CHEIOS DE CURIOSIDADE SOBRE O QUE NOS TRARÃO AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

 

 
«(...)Todos moram numa rua / A que chamam sempre sua / Mas eu cá não os invejo/ O meu bairro é sobre as águas / Que cantam as suas mágoas / E a minha rua é o Tejo (...)»



Disco duplo, somando 22 canções e mais de uma hora de duração, “Carta de Alforria” é provavelmente o projeto mais ambicioso de Plutonio, e aquele onde quer deixar para trás o estereótipo de homem criado em bairro problemático

Paulo André Cecílio

Carta de alforria” é o nome dado ao documento que, na época da escravatura, concedia a liberdade a um escravo, que a podia receber do seu proprietário de forma gratuita, adquiri-la ou obtê-la mediante a prestação de um qualquer serviço. É, também, o nome dado pelo rapper Plutonio (João Ricardo Azevedo Colaço, 39 anos) ao seu novo álbum, o primeiro em nome próprio desde “Sacrifício: Sangue, Lágrimas, Suor” (2019). Uma escolha que se adivinhava há algum tempo: no videoclipe para ‘Duas da Matina’, single que faz parte da trilogia “Pão Na Mesa” (2021), é possível ver essas mesmas três palavras grafitadas numa parede — o disco andava a ser preparado desde 2019. E uma escolha, também, adequada quando se tem em conta as temáticas sobre as quais Plutonio versa neste seu novo álbum. Dir-se-ia que, com esta “Carta de Alforria”, o propósito máximo do músico do Bairro da Cruz Vermelha, em Alcabideche, é libertar-se dessa amarra (psicológica, social) que é ser estereotipado como “o gajo do bairro”.

O próprio confirma-o, em conversa debaixo de um sol atípico para o mês de novembro. “Acho que me libertei de um certo estilo de vida que vinha associado ao ‘bairro’, que é de onde eu venho, e que é um ciclo muito difícil de quebrar”, conta. “A música trouxe-me essa liberdade. De certa forma, também, para conseguir alcançar essa ‘Carta de Alforria’ — que não me foi propriamente dada — foi preciso libertar-me de mim mesmo; foi uma libertação mental e, no final, musical.” (...)». Do Expresso desta semana.

 

*

*   *

Não fossem as mais recentes CONVERSAS COM O PÚBLICO  no Teatro Municipal Joaquim Benite e o assunto por aqui continuaria adormecido. Então não é que quando se diz «BAIRRO», pelo menos para alguns, isso significa que é um lugar marginal, pobre, onde haverá problemas! E foi por estes caminhos  que nos lembrámos do «Todos tem uma rua a que chamam sempre sua» de José Viana. Afinal, todos temos um bairro a que chamamos nosso. Por outro lado, se bem entendemos, a estratégia para os novos bairros não era precisamente juntar? Foi neste clima que no últimos dias construimos o «patchwork»  com as imagens acima. E gostamos daquele «fortalecer a identidade artística e cultural» para todos os BAIRROS. Melhor, para todas as «regiões». Ah, estamos a concluir que a da MARGEM SUL está em transformação, se é que já não mudou ... Em particular, estamos cheios de curiosidade sobre as narrativas partidárias para as próximas eleições autárquicas. Também em jeito de curiosidade, dos dias que correm, no Expresso, em entrevista  a Plutonio, isto:«Por diversas ocasiões, falou da sua vontade em ser presidente da Junta de Freguesia de Alcabideche. Qual será a sua primeira medida?
Boa questão [risos]. Primeiro, gostava de chegar lá, juntar-me com as pessoas de lá, e perceber quais é que são os maiores problemas que eles enfrentam neste momento. Porque é que não resolvem certos problemas que eu acho que, para mim, se calhar são fáceis de perceber. E explicar a minha perspetiva sobre o porquê da forma que eles têm atuado não resultar para Alcabideche, no todo. Então, acho que a primeira coisa é uma conversa que ligue os dois mundos e, depois, quando percebermos que os dois mundos fazem parte do mesmo, avançarmos para um melhor. (...)». 
De facto, lembrando Camões,  «Todo o mundo é composto de mudança/Tomando sempre novas qualidades».

Sem comentários:

Enviar um comentário