segunda-feira, 18 de abril de 2011

GRATUITIDADE

No DN de hoje artigo de opinião de Luís Raposo que embora sobre Museus interessará a debate sobre todas as Artes:

Em favor da gratuitidade
 LUÍS RAPOSO*
 Dizem-nos que só se valoriza o se paga. Certamente é por isso que não se valorizam as bibliotecas nem o ar que respiramos. Dizem-nos que temos de fazer dinheiro a todo o custo. Certamente é por isso que Berlusconi, em Itália, decidiu pôr a render o Coliseu, entregando-o a privados. Em suma, dizem-nos que devemos ser modernos e promover a excelência. É por isso que no último ano passámos a obrigar os nossos professores e estudantes, de todos os graus de ensino, a pagar as entradas nos museus do Ministério da Cultura, enquanto no Museu Berardo qualquer visitante entra de graça. No fundo, o que querem que o povo diga é: "Abaixo o Estado social e viva os comendadores dos pobres!"
 Bem sabemos que não existe alma no capitalismo, por isso não lhe falamos ao coração. Dizemos apenas que os arautos do mercado estão enganados quando pensam que a gratuitidade constitui "mau negócio". Em Londres provou-se o contrário. Os museus gratuitos fazem parte de um pacote que aumentou muitíssimo o turismo cultural, que se traduziu em mais actividade económica e acabou, até, por dar maior retorno financeiro aos museus. Em Lisboa, pelo menos, temos todas as condições para fazer idêntico, desde que haja visão e planeamento estratégico. Claro que é possível, e até desejável, limitar a gratuitidade segundo diversos critérios, cumulativos ou não: certos museus apenas, dentro de determinadas faixas horárias e para escalões etários específicos. Uma das vias mais interessantes a prosseguir será a de oferecer entrada livre em galerias permanentes e investir bastante em exposições temporárias pagas e bem pagas. Os próprios serviços complementares dos museus (lojas, cafetarias, etc), devidamente dimensionados, poderiam constituir fontes de rendimento não negligenciáveis. Invistam os governantes o mínimo dos mínimos, em vez de abandonar os museus, e todos poderemos colher lucros. Lucros, sim. Em contado e não apenas, perdoe-se o romantismo, em termos de promoção do saber e de elevação da cidadania.
 E, por outro lado, não quererão os arautos do mercado estar à moda ? Pois então atentem em que a tendência internacional nos últimos anos tem sido a de alargar e não restringir as situações de gratuitidade - o que tem sido feito em benefício dos mercados. Esqueçam os valores cívicos, se estes os incomodam. Mas por um momento abandonem o triste fado da casa sem pão, onde todos ralham e ninguém tem razão. Pouco lhes é pedido, afinal, senão que pensem menos como merceeiros e mais como capitalistas.

*Presidente do ICOM P
O link para o artigo. E para o ICOM Portugal

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