Um excerto:
«(...)
Jornais, televisões e rádios: à
entrada da exposição com que inaugurou a nova ala da Rua Capelo, Barreto Xavier
escolheu a máscara do cinismo. Não soube aceitar dignamente as vaias com que
foi recebido. Não conseguiu sequer fingir ignorá-las. Teve de lhes mostrar
desprezo. Olhou em volta a rir. E foi a rir que acenou na direcção dos
artistas, galeristas, críticos, historiadores da arte e outros agentes do meio
que se concentraram à porta do museu em protesto. Como se
os que o apupavam fossem risíveis e não merecessem o incómodo da gravidade.
Mas quem eram aquelas pessoas que,
por uma vez, recusaram franquear as portas do museu e preferiram manter-se na
rua? Diletantes? Insensatos? Gente melindrada por falta de reconhecimento entre
as instâncias de afirmação no meio? Não. Pelo contrário.
Raquel Henriques da Silva,
ex-directora do Museu do Chiado, ex-directora do Instituto Português de Museus,
actual membro da secção de museus do Conselho Nacional de Cultura. Filomena
Molder, filósofa e ensaísta. Jorge Molder, ex-director do Centro de Arte Moderna
da Fundação Calouste Gulbenkian e artista – por acaso, um artista a quem há
menos de dois anos o Museu do Chiado dedicou uma exposição antológica. Vasco
Araújo, que ainda no ano passado expôs também individualmente no museu. A dupla
Sara & André, com o mesmo percurso expositivo recente. Mais? João Tabarra,
Ana Vidigal, André Guedes, Ana Cardoso…
Podíamos continuar.
Eram muitos? Uma centena. Talvez um
pouco mais.
Nem que fosse um só deles.
É que não são os políticos que fazem
os museus. Quem faz os museus são os artistas e curadores, os historiadores e
todos os outros técnicos e agentes de uma vasta rede que produz, gere,
interpreta, contextualiza, preserva e dá caução e visibilidade às obras de arte
que depois justificam a existência dos museus. A tutela governamental da pasta
da Cultura existe, em grande parte, para representar e servir esta e outras
redes do sector. Infelizmente, Barreto Xavier parece ter-se convencido do
contrário – parece ter-se convencido que esta rede existe para o servir ou que
é um mal menor no caminho pessoal que visa traçar. Só isso justifica a tarde
negra do Museu do Chiado. (...)». Leia na integra.
Sem comentários:
Enviar um comentário