sexta-feira, 17 de julho de 2015

«FOI ABJECTO»



Um excerto:
«(...)
Jornais, televisões e rádios: à entrada da exposição com que inaugurou a nova ala da Rua Capelo, Barreto Xavier escolheu a máscara do cinismo. Não soube aceitar dignamente as vaias com que foi recebido. Não conseguiu sequer fingir ignorá-las. Teve de lhes mostrar desprezo. Olhou em volta a rir. E foi a rir que acenou na direcção dos artistas, galeristas, críticos, historiadores da arte e outros agentes do meio que se concentraram à porta do museu em protesto. Como se os que o apupavam fossem risíveis e não merecessem o incómodo da gravidade.
Mas quem eram aquelas pessoas que, por uma vez, recusaram franquear as portas do museu e preferiram manter-se na rua? Diletantes? Insensatos? Gente melindrada por falta de reconhecimento entre as instâncias de afirmação no meio? Não. Pelo contrário.
Raquel Henriques da Silva, ex-directora do Museu do Chiado, ex-directora do Instituto Português de Museus, actual membro da secção de museus do Conselho Nacional de Cultura. Filomena Molder, filósofa e ensaísta. Jorge Molder, ex-director do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e artista – por acaso, um artista a quem há menos de dois anos o Museu do Chiado dedicou uma exposição antológica. Vasco Araújo, que ainda no ano passado expôs também individualmente no museu. A dupla Sara & André, com o mesmo percurso expositivo recente. Mais? João Tabarra, Ana Vidigal, André Guedes, Ana Cardoso…
Podíamos continuar.  
Eram muitos? Uma centena. Talvez um pouco mais.
Nem que fosse um só deles.
É que não são os políticos que fazem os museus. Quem faz os museus são os artistas e curadores, os historiadores e todos os outros técnicos e agentes de uma vasta rede que produz, gere, interpreta, contextualiza, preserva e dá caução e visibilidade às obras de arte que depois justificam a existência dos museus. A tutela governamental da pasta da Cultura existe, em grande parte, para representar e servir esta e outras redes do sector. Infelizmente, Barreto Xavier parece ter-se convencido do contrário – parece ter-se convencido que esta rede existe para o servir ou que é um mal menor no caminho pessoal que visa traçar. Só isso justifica a tarde negra do Museu do Chiado. (...)». Leia na integra.


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