segunda-feira, 5 de julho de 2021

VICTOR PINTO DA FONSECA | «Zeus e o Ministério da Cultura»

 

 
Excerto: 
 
 «(...)Quanto à Colecção de arte contemporânea do Estado, receio que a desejada valorização e reconhecimento, desencadeará uma série de consequências, que se vão reflectir numa acentuada degradação das condições do universo da arte. Pretender fazer circular pelo país uma colecção de arte contemporânea com um programa de dez anos para aquisição de obras de arte com o dinheiro dos contribuintes é uma "Insinuação determinista" da qual dentro de poucos anos, a ministra da cultura e o curador da colecção, ao olharem para trás vão ficar lívidos de vergonha porque o que estão a fazer é uma "falsa visão". Ao intervir no mercado de arte, insinuando quais os artistas representativos do país, o Estado, passa a estar implicado em quaisquer danos que a sua acção possa causar, pois com certeza o que aconteceria sem a intervenção do Estado seria certamente diferente. A "crença na lei das aquisições do Estado" vai influenciar artistas, curadores e colecionadores privados, que tenderão a tirar conclusões precipitadas — a partir de escolhas que não são representativas da arte e dos artistas em geral. Esta tendência determinista das leis [do Estado], da Colecção de arte contemporânea do Estado, pode ter efeitos particularmente confusos no universo da arte contemporânea em situações de decisão e como orientar os julgamentos, julgando estar certas, para encaixar numa história fácil de adoptar e saliente mas também falsa.

A governalização da arte contemporânea parece querer acreditar que o processo assistencialista - após um protesto de alerta para o sector das artes visuais, apresentado por um grupo de 200 artistas ao primeiro-ministro António Costa -, de lançar um programa de dez anos para aquisição de obras de arte contemporânea, para a colecção do Estado, com uma dotação orçamental mínima de 300 mil euros por ano, apoiado na avaliação de uma comissão de membros (por um pagamento do governo), tem valor para os artistas. Mas a verdade é que não tem. Questiono-me como é que uma comissão de aquisição de arte nomeada pelo Estado para um programa de dez anos tem precisão nesta tarefa para escolher quem são os artistas e as obras a adquirir / coleccionar? Em detrimento de outros? (...)».



 

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