Excerto:
«(...)Quanto à Colecção de arte contemporânea do Estado, receio que a
desejada valorização e reconhecimento, desencadeará uma série de
consequências, que se vão reflectir numa acentuada degradação das
condições do universo da arte. Pretender fazer circular pelo país uma
colecção de arte contemporânea com um programa de dez anos para
aquisição de obras de arte com o dinheiro dos contribuintes é uma
"Insinuação determinista" da qual dentro de poucos anos, a ministra da
cultura e o curador da colecção, ao olharem para trás vão ficar lívidos
de vergonha porque o que estão a fazer é uma "falsa visão". Ao intervir
no mercado de arte, insinuando quais os artistas representativos do
país, o Estado, passa a estar implicado em quaisquer danos que a sua
acção possa causar, pois com certeza o que aconteceria sem a intervenção
do Estado seria certamente diferente. A "crença na lei das aquisições
do Estado" vai influenciar artistas, curadores e colecionadores
privados, que tenderão a tirar conclusões precipitadas — a partir de
escolhas que não são representativas da arte e dos artistas em geral.
Esta tendência determinista das leis [do Estado], da Colecção de arte
contemporânea do Estado, pode ter efeitos particularmente confusos no
universo da arte contemporânea em situações de decisão e como orientar
os julgamentos, julgando estar certas, para encaixar numa história fácil
de adoptar e saliente mas também falsa.
A governalização da arte contemporânea parece querer acreditar que o
processo assistencialista - após um protesto de alerta para o sector das
artes visuais, apresentado por um grupo de 200 artistas ao
primeiro-ministro António Costa -, de lançar um programa de dez anos
para aquisição de obras de arte contemporânea, para a colecção do
Estado, com uma dotação orçamental mínima de 300 mil euros por
ano, apoiado na avaliação de uma comissão de membros (por um pagamento
do governo), tem valor para os artistas. Mas a verdade é que não tem.
Questiono-me como é que uma comissão de aquisição de arte nomeada pelo
Estado para um programa de dez anos tem precisão nesta tarefa para
escolher quem são os artistas e as obras a adquirir / coleccionar? Em
detrimento de outros? (...)».
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