segunda-feira, 13 de junho de 2022

INEVITABILIDADES ? | «Nesta profissão há sempre períodos em que as pessoas não têm trabalho. Recentemente morreu uma grande senhora do teatro, Eunice Muñoz; nos anos 70 estava sem trabalho. Passámos todos por aí»

 

 

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Excerto: (...)  [«A precariedade] é um assunto que tenho vivido na pele, tenho acompanhado outros a viver na pele», apontou no início do seu testemunho, antes de se referir à «instabilidade» associada à imprevisibilidade na atividade laboral, que tornaram Rui Spranger um «biscateiro», com atividade irregular nas Finanças e na Segurança Social - «abre atividade, fecha atividade, abre atividade, fecha atividade». «Quando chegarmos à idade da reforma, estão a ver a miséria em que vamos estar.»

Os mais sacrificados, considera, nem são os atores, mas as pessoas ligadas ao circo, que vivem uma situação de abandono «absolutamente trágico», não obstante as plataformas de iniciativa particular que entretanto foram criadas para dar alimento a quem não tem como o comprar.

«A pandemia acabou por ser, talvez, o futuro o dirá, a pequena grande salvação para o setor da cultura, porque de repente o país ganhou consciência da situação em que nós vivíamos», ainda que continua a haver muitos profissionais que não recuperam das consequências da interrupção de projetos culturais, que não se resumem à falta de dinheiro, mas estendem-se a «agravantes do ponto de vista psicológico e de consumos».

A realidade descrita por Rui Spranger leva-nos ao que tanto defendemos no Elitário Para Todos: criar um setor da cultura e das artes onde haja organizações sólidas. Onde à partida se saiba o que cai na esfera do SERVIÇO PÚBLICO e o que se rege pelas regras do MERCADO. Onde seja possível desenvolver vínculos contratuais  de longo prazo. Com remunerações dignas. Onde se acabe com a prática de periodicamente se começar do zero, Senhor Ministro da Cultura, (o Senhor que diz que não tem de se começar do zero),  em que Agentes Culturais com provas mais que dadas se têm de submeter a concursos, outra vez, mais uma vez, ... como se estivessem no inicio - está a decorrer mais um ciclo de concursos dos designados «sustentados». Onde, e já que se falou da querida EUNICE MUÑOZ, haja setor em que um Teatro Nacional tenha uma Companhia Residente. Muitos até nem o saberão, já houve. Em dado momento o elenco do TNDMII:

(retirado do Programa do espectáculo «MINNETI Retrato do artista quando velho» de 1990) 

Depois, acabou. E, entendamo-nos, o designado ESTATUTO DO ARTISTA e a que dizem tão ambicionada REDE DE TEATROS E CINETEATROS (novamente assente em processo concursal) não vem resolver o  essencial, essencial que passa por mudanças de paradigma. É claro que a situação miserável que domina leva a que tudo o «que venha à rede seja peixe» ... E leva-nos a lutar pelo URGENTE - e como podia ser diferente! -   não deixando tempo para o futuro e ... E aqui a maior responsabilidade dos Governos. Terminemos dizendo: o setor tem as suas particularidades que devem ser respeitadas, mas a situação em alguns casos indigente que muitos vivem não tem de ser uma inevitabilidade. Não pode ser!


 

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