domingo, 21 de maio de 2023

UMA ENTREVISTA DE LUÍS MIGUEL CINTRA | a não perder ...

 

O trabalho como se constata é exclusivo - mas se puder não perca. Por isso apenas mais o excerto abaixo, em torno da primeira pergunta, e onde queremos evidenciar aquela venda de património porque essa dispersão nos arrepia... Porque consideramos que o PATRIMÓNIO CÉNICO - e muito mais se tem a mão de CRISTINA REIS - não pode ter tal destino.Uma vez mais,  Senhor Ministro da Cultura, ponha o assunto na sua agenda. E até será «modernaço», pode inseri-lo na ECONOMIA CIRCULAR na esfera do Desenvolvimento Sustentável, e como ilustração de que a CULTURA tem de estar presente nesse paradigma. Com as tão apregoadas NOVAS GERAÇÕES no centro. O que estamos nós a fazer da «memória»!

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«(...)Chama Pequeno Livro Arquivo a estas 600 páginas. Mas, ao mesmo tempo, quando se refere aos dois volumes que agrupam os textos e os materiais dos espectáculos da Cornucópia refere-se-lhes como o “Grande Livro”.
No Grande Livro, metemos tudo o que achávamos muito importante. Sobretudo a Cristina [Reis, cenógrafa e a sua grande cúmplice artística durante os 43 anos da companhia], porque é o registo que há das coisas todas dela. Mas foi um livro de que fizemos muito poucos exemplares e se esgotou. Além disso, é maciço, impróprio para ler, um objecto de peso enorme e letra muito pequenina. Pareceu-me que para as pessoas mais novas – que não chegaram a ver as coisas da Cornucópia e me perguntam porque é que se fala e o que é a Cornucópia –, se olharem para aquele livro têm uma certa ideia. Mas não vão olhar. Portanto, achei que era melhor ter um livro mais barato que pudesse compilar aquelas coisas.

Mas a razão principal foi outra: achar que se fechava um ciclo na minha vida. Porque a partir do momento em que acabou a Cornucópia, em que saímos daquela sala e fomos obrigados a vender o muito material acumulado, eu e a Cristina tivemos a sensação de que a nossa vida tinha acabado. E, portanto, apetecia-me concluir. Nos últimos textos, que escrevi para acompanhar os espectáculos já fora da Cornucópia, comecei a perceber que havia uma ligação muito grande entre as peças, um caminho, um percurso. Pouco a pouco, fui-me tornando mais consciente de como os nossos espectáculos tinham autor, sem ser o autor do texto propriamente dito. Havia uma criação, uma voz, uma inteligência das coisas ou uma maneira de pensar que ia passando de texto para texto e percebia-se muito bem quando se lia estes textos de seguida. (...)».

 

 

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