quarta-feira, 30 de agosto de 2023

ALEXANDRE POMAR | ENTREVISTA AO JORNAL SOL |«Neste momento, a relação das pessoas com a arte é, em geral, uma relação de grande desconfiança. Antigamente ia-se às galerias, agora as pessoas têm medo de entrar nas galerias, tem de se tocar à campainha...»

 

 
 De lá: (...)

Não estou a falar do Cabrita Reis, mas na arte contemporânea às vezes vemos coisas um bocado estapafúrdias: um artista que cola uma banana na parede, o outro que faz uma escultura invisível.... E tendemos a perguntar se não é uma fraude pura e simples. Enquanto crítico, como olha para estas manifestações?

Tive muitas vezes uma má relação com algumas propostas artísticas. Acho que há muito de anedótico e de especulativo nesta evolução das artes. E depois cria-se uma tradição da vanguarda que já não é uma tradição de inovação, mas a repetição de gestos de humor ou de provocações, mas que são imediatamente absorvidas pelo mercado e pelos museus e portanto, efetivamente, já não provocam nada. Neste momento, a relação das pessoas com a arte é, em geral, uma relação de grande desconfiança. Antigamente ia-se às galerias, agora as pessoas têm medo de entrar nas galerias, tem de se tocar à campainha...

É um pouco intimidatório...

 As pessoas vão aos museus quando eles têm jardins e refeitório, ou restaurante. Passeiam no CCB mas não entram, passeiam na Gulbenkian mas não entram. Há uma descredibilização.
 
Vê isso como uma consequência da produção artística?

 Da produção e de uma certa tradição em que as vanguardas se sucediam umas às outras e apagavam obras de grande qualidade. Sei lá, ninguém ligava ao Bonnard, por exemplo. E a história não é feita só dessa sequência de vanguardas. Este é um terreno confuso e a quantidade de livros com posições muito críticas em relação à arte contemporânea é muito grande. Eu próprio publiquei muitas coisas afirmando uma desconfiança grande em relação à orientação de Serralves, por exemplo. Foi-se criando uma grande desconfiança, os públicos afastaram-se, ou então uma atitude paralela a esta, que é ‘vale tudo, a gente não tem opinião. Enquanto as pessoas vão ao cinema e dizem ‘gostei’ ou ‘não gostei’, nas artes dizem ‘disso não percebo’. E isso é uma consequência desta desorientação - também tem a ver com a perda de eficácia dos museus, só fazem exposições temporárias de afirmação de novos artistas. A Gulbenkian ainda tentava às vezes apresentar uma perspetiva histórica do século XX, mas não há nenhum museu... (...)». Leia na integra.

 

 

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