quinta-feira, 24 de agosto de 2023

EDUARDO STREET|«O Teatro Invisível-História do Teatro Radiofónico»

 


RESUMO

Para quem nasceu já com a presença da televisão, é difícil imaginar um serão familiar com todos reunidos à volta da “telefonia”. O relógio da casa de jantar, o relógio que o avô trazia no bolso do colete, eram acertados pelo sinal horário da Emissora Nacional. Ouvir o noticiário lido por João da Câmara trazia à família um sentimento de segurança, de paz, a falsa ilusão de que se vivia no melhor dos mundos. Os programas eram ouvidos, saboreados em silêncio como um digestivo. A informação serena, a atenção, a entrega aos pacíficos prazeres que a estação oficial oferecia, lembravam os serões que Eça de Queirós descreveu n’O Primo Basílio. Às primeiras palavras, o ouvinte reconhecia o locutor, o actor. E, porque em muitos casos se ignorava o aspecto físico de quem falava, esgotavam-se as revistas que trouxessem uma fotografia do dono ou da dona da voz. Quantas vezes, um intérprete do Teatro Invisível, num café ou num táxi, ao falar, ouvia a invariável pergunta: “Não é X?”. Saiba mais.

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A propósito no Ípsilon:


De lá:

«(...) O teatro radiofónico, porém, era outro. Teve algumas décadas de glória, que correriam o risco de sucumbir ao esquecimento não fosse alguém lembrar-se de as recordar em livro. Esse alguém foi Eduardo Street (1934-2006), radialista, sonoplasta e autor de peças de teatro para a rádio, que morreu em Lisboa, vítima de pneumonia, no mês em que publicou em livro o seu testemunho dessa epopeia, a que chamou O Teatro Invisível, reeditado no passado mês de Maio pela Glaciar. É verdade que na então chamada Emissora Nacional, fundada em 1935, onde nasceu o teatro radiofónico português e onde se passa grande parte das histórias narradas no livro, também se estreou com o nome de “folhetim” o romance As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis. Uma superprodução, com adaptação de Adolfo Simões Müller e realização de Jorge Alves, com actores como Vasco Santana, Estêvão Amarante, Adelina Campos ou Álvaro Benamor. Isto em 1950. Os custos foram tais, que os “folhetins” só regressariam quatro anos depois, em 1954, de novo com Júlio Dinis (A Morgadinha dos Canaviais), mantendo-se por 20 anos, até 1974.
Ao todo, no espaço da Emissora Nacional e no da Radiodifusão Portuguesa (RDP), esta história contabiliza 45 folhetins e 500 peças de teatro radiofónico, por onde passaram muitos actores que pisavam, em simultâneo, os palcos do teatro (visível) e também os estúdios de cinema. Segundo Eduardo Street, esta aventura atravessou quatro gerações. Aos da primeira, escreve ele, “a rádio trazia-lhes a mesma desconfortável sensação do cinema. O gesto, a encenação psicológica, a sensação de poder que o palco dá, enchendo com voz uma sala – tudo se perdia frente àquele objecto negro, metálico: o microfone.” A segunda, pelo contrário, “surgida no fim da década de 40, estava fascinada pela telefonia, adorava o teatro invisível, respeitava-o como um elemento da sua carreira”. A terceira, por seu turno, “começou em frente dos microfones. A naturalidade, o tom coloquial, que hoje mostram na televisão, aprenderam no teatro invisível”. Por fim, à quarta “já pouco lhe diz a rádio”, encarando o microfone “como mero complemento da sua carreira”. (...)».


 
 
 

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