Felizmente temos o Festival Internacional de Teatro de Almada - sim, «puristas», não se assustem, o TEATRO continua no centro - para alegrar o nosso verão. Foi apresentado na sexta feira. Estivemos a ler o PROGRAMA. Em particular detivemo-nos no texto do seu Diretor Artístico. Veja acima. Tudo misturado dá ideia que o Festival está muito dentro dos tempos que correm. Muito geração «pós 25 abril»?. Tudo está em tudo! As artes só umas com as outras. E quase se está a adotar uma máxima do turismo: o que importa é a «experiência» ..., mais do que a «pureza de cada arte» - com a sua beleza e o prazer que cada uma nos traz. E o saber que é só seu. Contudo, se bem olharmos ao longo dos tempos sempre foi assim, mas já lá vamos, abaixo, ao olharmos para «o tema» (como agora se diz - deixou de haver problema, assunto, matéria ...), na perspetiva das Políticas Públicas. Desde já, não terá que ser «isto» ou «aquilo» - quando se pensavam estas coisas, o TEATRO, a DANÇA, a MÚSICA, as ARTES PLÁSTICAS, a ANIMAÇÃO CULTURAL, o CINEMA, a ..., estava adquirido que têm existência própria, e sim há sempre o «NOVO», nomeadamente pelo cruzamento das diferentes artes e pelo avanço das tecnologias ... Do ponto de vista dos PÚBLICOS a opção: OFERTA DIVERSIFICADA! Ao mesmo tempo, todas as condições aos criadores para inovarem, sem fronteiras.
Para quem segue o FESTIVAL, até apetece concluir - mas nestas coisas por aqui não se gosta muito de «definir», mas sim deixarmo-nos levar pelo que vai acontecendo - o que todos anos acontece em Almada é cada vez mais «FESTA» e assim até parece que estamos a voltar às origens - Festa do Teatro. Sublinhemos, se
calhar, o melhor é voltarmos à «origem» e em vez de FESTIVAL, FESTA. E
há que decidir: Festa do Teatro ou Festa de Almada ... E sempre que
falamos de «festa» lá nos vêm as palavras de Ruben de Carvalho que tão
bem sabia concetualizar a «ideia de festa» - e não era só a propósito da sua Festa do Avante ...
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Aqui chegados, bem vistas as coisas, até não se desgosta da «bolha cultural» que a CTA (e a Câmara Municipal de Almada, desde sempre) produzem e que se «ama» e de que nos sentimos parte. Quem não gosta de estar com um acontecimento cultural de qualidade! Mas, a «bolha» nunca esqueceu o seu contexto, ou seja o que se passa à volta ... E era reconfortante ver no seu PROGRAMA como o mostrava. Criticavam-se os poderes, mesmo «cara à cara» - os institucionais sempre foram convidados para os atos inaugurais. Como dizer, fazia parte da identidade do Festival ... A coisa não se perdeu, estará a perder-se ... Mas este ano eis a reviravolta que nos dá esperança: UMA ENTREVISTA DE TERESA GAFEIRA. A que propósito? Como aconteceu? Onde se pode ler na integra? O que nos é dado ler é o mesmo qualquer que seja o meio de comunicação social mudando destaques e adornos. Mas a entrevista até podia funcionar como uma «extensão» do Programa do Festival. O mais recente que nos chegou:
Já seremos suspeitos de tanto o termos dito: o universo CTA/TMJB merece ter um caráter NACIONAL e com isso financiamento correspondente. Uma perguntinha: já recuperou o que tinha antes da chegada da TROIKA? Claro, a transformação devida a esta realidade cultural só será efetiva com uma verdadeira fixação de um SERVIÇO PÚBLICO DE TEATRO que ponha fim aos já insuportáveis CONCURSOS. Voltemos à nossa, imagine-se as ESCOLAS e os HOSPITAIS a existirem se apenas alguém concorresse ...
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Em linha com o que se acabou de escrever, de facto ao lermos o texto do Diretor Artístico do Festival de Almada eis que algumas campainhas soam. Interrogações de sempre adormecidas voltam. A entrevista de Teresa Gafeira ganha novas tonalidades ... Mas o «FESTIVAL» DE TEATRO (E DO RESTO!) mostra-nos espaço para se conversar «o ponto de vista» de Rodrigo Francisco, por exemplo, nas CONVERSAS DA CERCA - que este ano vão ser no CONVENTO DOS CAPUCHOS (para os que desconhecem o que de lá se vê é igualmente grandioso ..., diferente do sitio anterior - a Cerca que deu o nome aos Encontros e donde se vê Lisboa além do Tejo, que não para de encantar!). E promete:
«ENCONTROS DA CERCA
Criação, ideologia, identidade
Moderação: Jorge Vaz de Carvalho - Quando passam cinco décadas sobre a Revolução que nos trouxe a liberdade de expressão, debruçamo-nos sobre os limites hodiernos dessa mesma conquista. Convidamos pensadores e artistas de diferentes áreas e gerações para, parafraseando Salgueiro Maia, olharmos para ‘o estado em que estamos’ no que diz respeito à criação. Qual o papel da ideologia naquilo que hoje fazem os artistas? E o da identidade? Será que a arte é passível de ser ‘útil’, e que os espectadores de hoje esperam ainda aceder a uma ‘mensagem’ quando se sentam numa plateia, abrem um livro, ou visitam uma galeria?
Atendendo ao contexto digital, volátil — e não poucas vezes incendiário — em que vivemos, até que ponto os criadores são ainda livres, tal como passaram a ser há cinquenta anos? Será que existem mesmo, hoje em dia, novas formas de censura? E que alguém passou a vigiar — por detrás de que biombos? — aquilo que é legítimo ser escrito, exibido e levado à cena? (...)».
É verdade ao mergulharmos no PROGRAMA DO FESTIVAL DE ALMADA de todos os lados nos aparecem ideias - entre perguntas, assunções, dúvidas, nostalgias? ... até ao «mas o que é isto!» ... Ilustremos:
- Será que faz sentido olhar para o que nos é dado ler no PROGRAMA DO FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE ALMADA na perspetiva das POLÍTICAS PÚBLICAS?Curiosamente, o que vimos assistindo remete-nos para as discussões acaloradas sobre a designação do organismo (com o significado de conceito) e sua organização interna. mais diretamente relacionada com estas matérias. Lembremos: 1975 DGAC -Direção Geral de Ação Cultural; em 1996 IPAE - Instituto Português das Artes do Espetáculo - veja aqui - (em 1998 saiu a Orgânica - veja aqui ) ; DGARTES - Direção Geral das Artes; ... E lá pelo meio ainda houve (quando se quis amalgamar juntando organismos) a DGEAT Direção Geral dos Espectáculos e das Artes com o que se acabou com a DGAC e a a Direção Geral dos Espectáculos e dos Direitos de Autor - isto foi em 1992 - veja aqui). Mas esta resenha não diz tudo, ainda houve em 1994 o IAC - «(...) Assim, é criado um instituto público com autonomia administrativa, designado Instituto das Artes Cénicas (IAC), ao qual competirá a execução da política do Governo no que respeita ao apoio e à promoção do desenvolvimento das artes cénicas em todo o País, de uma forma geograficamente equilibrada. Ao IAC competirá também gerir os dois teatros nacionais actualmente existentes: o Teatro de D. Maria II, em Lisboa, e o Teatro de São João, no Porto. (...)» - veja aqui.
- Em especial o que dizer da estrutura orgânica atual da DGARTES?, em que medida opções artísticas que perpassam os nossos dias - como o sistematizado no PROGRAMA aqui em apreço, não esgotando «graças aos deuses» - lhe dão conforto?
Que não haja dúvidas, pelo nosso lado: o organograma mostra «UMA ABERRAÇÃO». E até podem fazer «benchmarking interno», olhando para o que provou no passado ... Claro, esqueça as «aberrações» que também aconteceram ...
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E pronto, ao que nos leva o FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE ALMADA - é o que acontece «aos melhores» estão sempre na mira. FAZ PARTE! Obrigado.
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