«Não podia ter nascido em outro lugar. Divinópolis, a cidade do interior de Minas Gerais. Nem ter outro nome, Adélia Prado. Considerada a maior poeta viva do Brasil, a mulher que ousou juntar a a fé com a emoção mais sensorial em poesias contundentes acaba de ser anunciada esta quarta-feira como o mais recente Prémio Camões.
Publicou o primeiro livro tinha já 40 anos. Em 1976 com o título de “Bagagem”, onde se encontram poemas antológicos como a desconstrução de Carlos Drummond de Andrade. Em “Com licença poética" marca o terreno da sua linguagem, que vale a pena recordar:
”Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."
Adélia Luzia Prado Freitas era filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. E a aprendizagem familiar transparece nos seus poemas. (...)».
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