quinta-feira, 27 de junho de 2024

E HÁ BOAS NOTÍCIAS |«Adélia Prado, a mulher desdobrável, a voz da poesia sensorial e mística, ganhou o Prémio Camões»

 


 
 SINOPSE
 «Adélia provoca escândalo. A expressão cultual, como nos avisam as diversas tradições litúrgicas, é intimamente corporal. Os sacramentos pedem matéria (água no Batismo, o óleo da unção na Confirmação, pão e vinho na Eucaristia, etc.), porque o espiritual supõe o sensível. Com efeito, os êxtases espirituais de Teresa viam-se no corpo — como o atesta o Bernini da Igreja de Santa Maria da Vitória, em Roma —, a contemplação do Poverello de Assis fazia-o levitar três metros acima do chão, e as experiências místicas de São João da Cruz tinham consequências somáticas marcantes, como o vómito. Adélia Prado assim o entende. O religioso sem corpo é triste, incompreensível e anímico, porque é com o corpo que se ama a Deus. O corpo é que nos abre, como janela, para a transcendência: Deus só é experimentável a partir do corpo e na relação com o corpo. A poética de Adélia Prado é, por isso, escandalosamente erótica, porque é, talvez mais ainda, escandalosamente sacramental.» - José Tolentino Mendonça e Miguel Cabedo e Vasconcelos, no prefácio a esta edição.
 
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Da Comunicação social - semanário Expresso: 
 « Adélia Prado, a mulher desdobrável, a voz da poesia sensorial e mística, ganhou o Prémio Camões». Excerto do trabalho de Christiana Martins:
 
 

«Não podia ter nascido em outro lugar. Divinópolis, a cidade do interior de Minas Gerais. Nem ter outro nome, Adélia Prado. Considerada a maior poeta viva do Brasil, a mulher que ousou juntar a a fé com a emoção mais sensorial em poesias contundentes acaba de ser anunciada esta quarta-feira como o mais recente Prémio Camões.

Publicou o primeiro livro tinha já 40 anos. Em 1976 com o título de “Bagagem”, onde se encontram poemas antológicos como a desconstrução de Carlos Drummond de Andrade. Em “Com licença poética" marca o terreno da sua linguagem, que vale a pena recordar:

 

”Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."

 

Adélia Luzia Prado Freitas era filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. E a aprendizagem familiar transparece nos seus poemas. (...)».



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