A notícia a que se refere a imagem chega-nos como tantas outras pela rotina de se seguir a comunicação social. Uma vez mais, uma simples notícia leva-nos a questões de fundo relativas à memória que não temos sobre o Setor Cultural e em particular quanto ao processo desenvolvido no âmbito do SERVIÇO PÚBLICO DE CULTURA: do desejado ao concretizado. Na circunstância, o TEATRO. Neste caso, onde encontrar a «história da MALAPOSTA»?, melhor, do programado CENTRO DRAMÁTICO INTERMUNICIPAL ALMEIDA GARRETT que teria (teve) sede no equipamento. O site atual nada nos diz sobre isso... Procurando, lá vamos desaguar na Wikipedia - e a pergunta óbvia: qual a garantia do que nos informa? -, mas é o que temos, e de lá isto: «(...) Na década de 1960, foi desativado e ficou ao abandono até 1987 quando surgiu um tentativa de o converter em sede de um projeto cultural inédito. Os presidentes de município da Amadora, Loures, Vila Franca de Xira, Sobral de Monte Agraço decidiram criar um organismo intermunicipal que seria um centro dramático para servir os quatro municípios, nomeadamente prover serviços culturais nas áreas do teatro e animação sociocultural. Este projeto seria o primeiro centro dramático criado em Portugal onde a animação sociocultural iria incluir; teatro, as artes plásticas, o cinema, a dança, a literatura, a poesia e a música. (...)». Desde logo, não se ficou pela tentativa, CONCRETIZOU-SE! E recorrendo ao Google, encontrou-se este Relatório de Mestrado, atente-se nas pessoas envolvidas (o destaque é nosso), e é de lá este excerto:
«(...)
3.1. Génese do Centro Cultural Malaposta
O projeto cultural e político que deu origem ao Centro Cultural da Malaposta foi
concebido por iniciativa de quatro municípios da periferia da cidade de Lisboa, como uma
necessidade decorrente do trabalho cultural desenvolvido por estes municípios: Amadora,
Loures, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira.
Numa conferência de imprensa realizada no Museu Municipal de Loures, no dia 8 de
julho de 1987, para a qual foram convidados jornalistas, profissionais de teatro, representantes
de organismos sindicais e de grupos de teatro amador, os Presidentes das Câmaras Municipais
destes municípios apresentaram o projeto de criação da Associação de Municípios para a Área
Socio-cultural - AMASCULTURA e do Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett -
CDIAG, com componentes de produção artística, formação e animação cultural.
O Boletim Informativo Especial de Balanço da Actividade de 1987, da Câmara
Municipal de Loures, anunciava este novo projeto municipal, indicando o local onde seria
instalado: «Às portas de Lisboa, mais concretamente ao fundo da Calçada de Carriche, em
Olival Basto, no antigo matadouro municipal de Loures, vai nascer em Março próximo um
novo espaço cultural.»
Neste equipamento cultural seria instalado o Centro Dramático Intermunicipal Almeida
Garrett (CDIAG) que «nasceu com o objectivo de assegurar um serviço público profissional,
com carácter permanente e sistemático, nas áreas de produção, formação teatral e animação
cultural. Trata-se da primeira companhia de teatro pública profissional constituída em Portugal
à excepção da Companhia Nacional de Teatro D. Maria II. Esta companhia possuirá um elenco
base de actores e técnicos e designar-se-á por Companhia da Malaposta, numa referência à
primeira ocupação do seu espaço-sede – local de repouso de viajantes e de muda de cavalos do
serviço de correios do século passado.» 32
Apresentada em Julho de 1987 e formalmente constituída a 6 de Janeiro de 1988, a
Amascultura foi a primeira associação intermunicipal desta natureza criada em Portugal, para
a prestação de serviços na área cultural, abrangendo o território dos quatro municípios, com
uma área geográfica de 550 km2
e uma população de cerca de 700 mil habitantes.
O Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett foi o primeiro organismo desta
associação intermunicipal, criado em maio de 1988, tendo como principais objetivos: a
descentralização cultural, a produção teatral, a formação de atores, incentivos à produção de
textos dramáticos nacionais, a criação de novos públicos e a animação cultural.
O principal ideólogo do projeto cultural e da criação do CDIAG foi o ator e encenador
José Martins, que refere «alguns aspetos que estando no centro da criação do CDIAG,
acabaram por colocar o Município de Loures (juntamente com os restantes três municípios que
com ele se associaram) na vanguarda de uma política de desenvolvimento cultural que não
encontra paralelo em Portugal: desde logo a criação da primeira associação de municípios
exclusivamente destinada à prestação de serviços culturais; depois, a consideração do teatro
como motor privilegiado de uma política consequente de desenvolvimento cultural; finalmente,
a assumpção do teatro como serviço público.»Para concretizar o projeto foi criada uma Comissão Instaladora com a seguinte
composição: Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Loures, António
Marques Ribeiro e os atores e encenadores José Soeiro Martins, José Peixoto e Mário
Barradas.
Tratou-se de um projeto cultural concebido há cerca de 27 anos, com características
inovadoras e inéditas ao nível autárquico, por ter sido concebido e implementado por iniciativa
conjunta de quatro municípios da periferia de Lisboa, que incluiu: a constituição de uma
associação de âmbito intermunicipal especifica para a área sociocultural - Amascultura, a
criação de um Centro Dramático Intermunicipal e uma companhia de teatro profissional para a
prestação de um serviço publico, com instalações próprias, em edifício recuperado e adaptado
para esta finalidade, que recebeu inicialmente o nome de ―Teatro Malaposta‖. (...)». Veja mais. Voltando à Wikipedia, vejamos uma amostra dos espetáculos levados à cena que, a nosso ver, muito nos diz:
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Não nos parece excessivo voltar, uma vez mais, a sugerir que se conheça o passado para as TRANSFORMAÇÕES NECESSÁRIAS DE HOJE. Organizar a Memória será uma das valências do SERVIÇO PÚBLICO DE CULTURA. Densificando, conhecendo o conceito, o planeado e o praticado na esfera do CENTRO DRAMÁTICO INTERMUNICIPAL ALMEIDA GARRETT, certamente se perceberá melhor o que significa para o desenvolvimento harmonioso do País a cobertura de todo o território de uma verdadeira REDE DE ARTES organizada em função de PROJETOS ARTÍSTICOS cuja existência não se esgote em PROCESSOS CONCURSAIS. Mas isso não entra «pelos olhos adentro?». Necessariamente, há que partir do que temos, e valorizá-lo, ..., não somos dos que querem sempre partir do zero, embora como nos diz a vida, a teoria e a técnica da GESTÃO PÚBLICA, em muitas situações há que provocar ruturas ..., para um FUTURO NOVO.
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