Carlos Avilez deixou-nos. Mais uma figura «com aura» das gerações mais velhas que de nós se vão despedindo. O vazio aumenta. Estamos com os que pensam que personalidades destas não têm substituto e também por isso a falta é mesmo enorme. Todavia, não esquecemos, o nosso amigo marcou as organizações por onde passou e com quem se cruzou. Deixa legado. E como trabalhou até ao fim, e tanto 0 desejava, foram muitas as pessoas que beneficiaram da sua vida. Não há como não reparar na maneira como profissionais de teatro mais novos valorizam o terem trabalhado com o Carlos Avilez, nomeadamente no icónico Teatro Experimental de Cascais, ou porque passaram pela Escola que criou associada à sua companhia, num modelo que homens e mulheres de teatro «antigos» tanto defendem. Como podemos verificar, no nosso País há os que não ficaram à espera, avançaram ... Avançam! Carlos Avilez não faltou! Na origem, acreditam verdadeiramente num SERVIÇO PÚBLICO DE TEATRO PROFISSIONAL com o Teatro Amador, a coisa amada, ao mesmo tempo. E queremos lembrar também o Espaço Memória - o passado material e imaterial como riqueza a defender, e quando foi lançado em Cascais não seriam muitos os que o colocavam na agenda. Mas estes processos são caros e devia para isso existir estratégia estatal que permitisse, em particular, economias de escala e circularidades, na senda da sustentabilidade do planeta, na defesa da nossa civilização.
«Encenador e Ator», assim é realçado no muito que já se escreveu neste momento triste, seguido da enumeração dos autores e peças que nos apresentou, das equipas que formou ...,numa lógica curricular, digamos, comum. E que OFERTA! Essencial, mas não chega, mesmo que se adiante também as funções institucionais que desempenhou como Diretor do Teatro Nacional D.Maria II e Presidente do Instituto de Artes Cénicas. Há que recordar por inteiro! Além do protocolar, alma! Do que existe e conhecemos, elegemos o que José Jorge Letria escreveu em 2019 quando Carlos Avilez foi homenageado no Festival de Teatro de Almada - por estes caminhos prossigamos, é outra coisa:
No Elitário Para Todos há quem tenha trabalhado com Carlos Avilez no TNDM II; tenha participado na sua intervenção enquanto Presidente do ICA - Instituto da Artes Cénica; observado a sua relação com a Administração via Secretaria de Estado da Cultura/Ministério da Cultura; ... E assim se ousa as pequenas notas que se seguem, tantas vezes já faladas em grupos restritos mas também em espaços públicos, em jeito de admiração e reconhecimento.
Assim, no primeiro Governo Guterres o Teatro Experimental de Cascais estava entre aqueles a quem devíamos a atividade teatral existente durante anos, expresso neste preâmbulo do Despacho Normativo de Rui Vieira Nery, e Avilez recordava isso com frequência:
Em algum momento, devemos-lhe isso, teremos de sistematizar, como deve ser, o envolvimento de Carlos Avilez nas transformações operadas nas Artes do Espetáculo, uma vez mais, no primeiro Governo Guterres, quando cumulativamente era Diretor do TNDMII e Presidente do IAC, este com sede no Porto. Era como que membro incondicional duma equipa em que se revia em busca de mudanças de fundo, nomeadamente no Teatro. Incansável, assegurou um trabalho invisível mas fundamental, por exemplo, na esfera do Teatro Nacional S.João, para que (re)abrisse com outra respiração em pouco tempo.
E quem testemunhou, não pode esquecer o entusiasmo que colocou na angariação de parceiros aquando da Peça Rei Lear, protagonizada por Rui de Carvalho. Não há muito, lembrava o dia da estreia que dominou o telejornal da SIC ... E em todo esse trabalho o prestigio de Carlos Avilez contava! E mostrava, sim, o seu respeito pelos atores.
Hoje ficamos por aqui. Necessariamente, havemos de voltar ao Carlos Avilez. Ainda nem interiorizamos que já não nos vamos encontrar por aí ... Chegámos a pensar que seria eterno. Será. Para isso, recorrendo a expressão de Maria de Lourdes Pintasilgo, comecemos a CUIDAR O FUTURO de Carlos Avilez. Como não gostava de caminhar sozinho, cuidemos da memória de todos. Na circunstância, dos vivos e dos mortos do TEATRO. E que bela homenagem seria! Em algum momento será ...
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