sexta-feira, 27 de setembro de 2024

DE LUÍSA COSTA GOMES | A NÃO PERDER | o livro «visitar amigos _ e outros contos» | mais a entrevista ao Ípsilon

 

 
 

E não resistimos a mais estes excertos da entrevista:

«(...) Os contos denotam muita atenção ao que está a acontecer, através de pequenos detalhes. Em 2023 esteve particularmente atenta ao país, a escrever crónicas sobre a actualidade para a rádio [Assim Se Faz Portugal, TSF]. Uma coisa contaminou a outra?
Acho que não. Aquilo era diferente, tinha um certo dia da semana para escrever e tinha de a entregar. A certa altura, a realidade realmente ultrapassa a ficção. O meu mundo está a morrer, o mundo em que nasci, cresci e fui adulta está a desaparecer. Não me causa uma nostalgia maior porque acho que o que aí vem tem coisas muito interessantes e que podem ser muito facilitadoras para a nossa vida.

Por exemplo?
Os robots, a inteligência artificial, vai ser fantástico quando eles começarem a lavar a loiça. Tenho aqui uma Alexa que é muito estúpida. Ainda não são muito bons. Temos sempre a noção de que eles vão tomar conta. Mas tomar conta de quê? Dos bancos? Nós também já não temos acesso, portanto, não vai ser muita a diferença. Quando perceberem que podem servir a Humanidade a fazer estas coisas, limpar o chão, fazer trabalhos maquinais, sempre iguais, penso que poderão libertar-nos. Por um lado, para uma maior pobreza, mas, por outro, para não sermos obrigados a pensar como as máquinas e a fazer o que as máquinas fazem.
É muito curioso que se fale disso de uma maneira muito catastrofista sem perceber que a catástrofe já aconteceu. Ou seja, esta coisa venenosa [mexe no telemóvel] já faz parte da nossa vida de tal maneira que não conseguimos viver sem eles. Isto é que é uma catástrofe. Já aconteceu, aliás, nas escolas, continua a acontecer. Mas tudo aquilo que é catastrófico já está a acontecer. Por exemplo, os médicos que não olham para as pessoas, mas para o computador: isso já aconteceu e é uma catástrofe do ponto de vista humano. Já são as máquinas a tomar conta, já estão dentro do sistema e as pessoas ainda estão com medo que aconteça qualquer coisa. Não, já aconteceu. (...)».


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