sábado, 28 de setembro de 2024

JORGE CALADO NA REVISTA DO SEMANÁRIO EXPRESSO |COMO É ÓBVIO A NÃO PERDER |«Prova de vida em tempo de crise» |TRAZEMOS ALENTO AO LER CRITICA COM QUE DE FACTO SE APRENDE E NÃO NOS DEIXA SÓZINHOS NA AVALIAÇÃO DAS NOSSAS «UNIDADES DE PRODUÇÃO DO ESTADO» DA CULTURA

 

 O trabalho a que se refere o recorte acima está no semanário Expresso desta semana. Tem este titulo: «Prova de vida em tempo de crise». E se é de Jorge Calado, (utilizando  palavra que lá sobressai), é óbvio que se vai ler com avidez: aliás, nesta letargia que atravessa o olhar sobre o SETOR DA CULTURA E DAS ARTES como podia ser diferente? Bebemos conhecimento e trazemos alento, afinal não estamos sozinhos  na apreciação que se vai por aqui fazendo da intervenção estatal. Para «aguçar o apetite», excertos:
«Finalmente, o nosso único teatro de ópera — ou quem o dirige — deve sentir-se bem. Não têm que programar uma temporada de ópera, vão ao caixote do lixo reciclar para o Porto uma opereta com libreto revisteiro e encenação rasca,prometem uma “Jenufa” para março, e pedem à Orquestra Sinfónica Portuguesa e ao Coro do Teatro Nacional de São Carlos que façam prova de vida. A solução óbvia era montar uma temporada de ópera no CCB — também tutelado pelo Estado — mas “em Portugal, o óbvio é que é difícil” (nas palavras eternas de um grande escritor). O descalabro é total. Não souberam escolher um diretor artístico num concurso pseudointernacional (com um júri nacional juntando os suspeitos do costume e apenas um musicólogo), e agora entram em tournée com a lata da casa. Eu sei que os euros não chegam para mandar cantar um cego, num teatro inchado de pessoal que pouco produz. Basta comparar com os tempos em que apresentavam sete ou oito títulos por temporada, com grandes cantores e encenadores internacionais. Enfim, o ‘problema português’ em ação: uma instituição nacional entregue a “um regime oligárguico-parasitário [...] onde grupos de indivíduos tratam dos seus interesses em detrimento dos interesses gerais” do país, tal como definido pelo historiador, ensaísta e professor Augusto Reis Machado, sobrinho do notável compositor Augusto Machado, autor da “Maria da Fonte” (maltratada pelo São Carlos).
 (...). 
 Confesso que duvidava que o maestro titular, Antonio Pirolli, competentíssimo no repertório operático italiano, possuísse também uma veia mahleriana, mas com uma escolha acertada de solistas e o esforço de todos, o resultado foi excelente.
(...)
Indesculpável foi o facto de não haver tradução simultânea e de não ter sido possível acompanhar o texto numa sala às escuras. Ouvir, é uma coisa; entender o que se ouve, é outra. Os nossos gestores culturais não só são incompetentes como não gostam de música».
 
Aproveitando este ambiente, a nosso ver, muito do que aqui é dito pode estender-se a outras UNIDADES DE PRODUÇÃO DO ESTADO «em obras». Ilustrando, admite-se que esta circunstância possa abastardar a missão de um Teatro Nacional de «TEATRO»?, mesmo que a atividade inventada seja louvável,  contudo manifestamente própria de «outros» projetos ... Certamente que avançarão com qualquer coisa do género: não é a nossa opinião. Como se isto fosse uma «questão de opinião»! Não, não é, é assunto de SERVIÇO PÚBLICO que  tem de nos garantir (garantir, e não apenas apoiar) nomeadamente os nossos clássicos e os mundiais ... Haverá gerações (mesmo aquelas das mais preparadas) que não tiveram/têm/terão oportunidade de beneficiar do saber e do prazer que no caso só TEATRO nos pode dar... 
Obrigado, Jorge Calado, por nos estimular a não desistir de pensar as nossas realidades na esfera da cultura e das artes.
 E como gostamos de gostar, e evidenciar o lado bom, voltemos ao distinguido no Expresso: 
 
Seria  maravilhoso que tudo isto fosse «elitário para todos». Só o será com a possibilidade de experiências artísticas continuadas, permanentes e sistemáticas. Com um SERVIÇO PÚBLICO digno desse nome.


 

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