terça-feira, 20 de setembro de 2022

A CAMINHO DOS 50 ANOS DO 25 ABRIL? | a guerra colonial a passar pelos palcos

 


22 SET - 16 OUT 2022*
QUA - SÁB, 19H > DOM, 16H
SALA GARRETT
 
 

«Compreender o passado e imaginar o futuro. 

 
Casa Portuguesa conta a história (ficcional) de um ex-soldado da Guerra Colonial que, dialogando com os seus fantasmas, se vê confrontado com a decadência e a transformação do ideal de casa, de família, de país e do cânone da figura paterna. Um retrato do que foi, do que é e do que poderá ser (ou não ser) a célula familiar patriarcal por excelência, a casa, tendo como pano de fundo os acontecimentos recentes da nossa democracia e revisitando a mais dolorosa das feridas abertas da nossa história.
Em data incerta, talvez no final dos anos 40, num bar de um hotel em Moçambique, três portugueses escrevem a canção Uma Casa Portuguesa, um fado pobre e alegre que reproduz um saudosismo estereotipado de uma ideia de Portugal, bem ao gosto da ideologia do Estado Novo. Fado que, passados 48 anos de vida democrática, ainda muitos portugueses sabem de cor.
Em 1968, Joaquim Penim, parte, a contragosto e contra a sua ideologia, para a Guerra Colonial em Moçambique, experiência que servirá de matéria, muitos anos depois, para o seu livro No Planalto dos Macondes.
Em 2021, Emanuele Coccia edita Filosofia Della Casa, um ensaio que descreve a casa como um espaço em que injustiças, opressões e desigualdades foram escondidas e reproduzidas mecanicamente durante séculos. É na casa e através da casa, por exemplo, que se gera a maior parte da violência sexual, que se privilegia a heteronormatividade e o racismo.
É da conjugação destes três materiais – fado, diário de guerra e ensaio filosófico – que nasce o espetáculo de abertura da Nova Temporada da casa do teatro português, o Teatro Nacional D. Maria II.
Conversa com artistas após o espetáculo
25 set > dom, 19h
Saiba mais.
 
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TEATRÃO - «Os cadáveres são bons para esconder minas»
 
Carlos Gomes / Teatrão / De 15 a 18 de Setembro o Teatrão de Coimbra estará no Teatro Joaquim Benite
 

«A Guerra Colonial, que Portugal travou nas suas antigas colónias de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau contra os movimentos independentistas, aconteceu há 50 anos, mobilizou um milhão de soldados e afectou toda a sociedade portuguesa. “Os cadáveres são bons para esconder minas” é um espectáculo que explora as memórias desse conflito. Como explica o Teatrão: “Tal como actualmente o Ocidente tem vindo a discutir o legado esclavagista e colonial, impõe-se regressar a esta ferida da história recente portuguesa para compreender as suas implicações para toda uma geração e de que modo as suas repercussões chegam aos nossos dias”. Partindo do lado documental e testemunhal da guerra, procura explorar-se a noção de trauma que atravessa as histórias e as palavras que chegaram até aos nossos dias.

Este projecto encerra a narrativa que o Teatrão construiu desde 2018 denominada CASA e que enquadrou A Casa Portuguesa, A Casa do Poder e, A Casa Fora de Casa, os ciclos de criação dedicados ao Estado Novo, à Europa, à Família e à Guerra. A CASA foi o motor para investigar, discutir e criar  artisticamente objectos que discutam o presente e o lastro histórico que carregamos sem discutir e superar. (...)». Saiba mais.

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Companhia de Teatro de Almada - «Um gajo nunca mais é a mesma coisa» 



«A minha mulher chorava por mim, porque um soldado não chora”: diz o protagonista, soldado à força, como os demais, numa guerra que foi sempre mais de outros do que de quem nela combatia. Em Um gajo nunca mais é a mesma coisa, o espectador encontrará um conflito bélico já bem distante, que nunca constituiu uma verdadeira memória colectiva, antes uma ferida aberta que se sente na carne, mas que ninguém quer ver, ninguém quer tratar. No evoluir deste espectáculo de teatro, convoca-se um cenário de guerra, onde estão soldados duplamente colocados ao abandono: abandonados, enquanto combatem, abandonados no estatuto de ex-combatentes.

Guerra colonial, colonialismo, o fantasma cada vez mais real da extrema-direita, o racismo, globalização e essencialmente a leitura de um passado à luz de um presente e o modo como estes se enfileiram na esteira de um futuro, são os vértices em que se move a peça. É um poliedro de pontos de vista, que se expõem no texto e na dramaturgia em palco; sempre oscilando entre um passado que se viveu (“se não estivermos cá quem contará a história?”) e um presente que o revive e, mais do que isso, o reconfigura. O protagonista, em palco, literalmente, é sempre duplo: o soldado na guerra e nos vários presentes por que passou, após o seu regresso à capital, sempre com a “guerra dentro do bolso.”

“Por conseguinte, por conseguinte”: é aos solavancos, com este bordão de linguagem repetido como um mote pela personagem principal, que se conta, rememora, remói, a história. No entanto, a narrativa da guerra colonial não é, nunca foi, feita nem de continuidade, nem de lógica causal interna, mas de saltos de perspectiva, em constante confronto e clivagem: a vivência dos ex-combatentes no passado; a memória desse passado e a sua presentificação permanente; a visão exterior da condenação subliminar, o olhar externo crítico, aqui, protagonizado pela personagem feminina, estrangeira, racializada, a realizar um pós doutoramento acerca do colonialismo e por isso tão longe das ambiguidades, não da guerra colonial em si, mas do soldado anónimo que a viveu sem escolha: “saímos heróis, regressamos facínoras”, diz o protagonista em dado momento, quando na verdade no teatro de guerra já nem heróis almejavam ser: “só queríamos voltar de lá vivos”. (...)». Saiba mais.

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É um facto - e isso mesmo foi referido na «Conversa com o público» havida no Teatro Municipal Joaquim Benite  no  sábado passado a propósito do espetáculo do Teatrão, «Os cadáveres são bons para esconder minas», que ali estava a decorrer -, recentemente há mais documentários, filmes, livros, teatro, exposições ... sobre a Guerra Colonial e realidades afins, de que as produções acima são ilustrações. Qual a razão? Isso mesmo foi lá debatido na conversa. Entretanto, lembramo-nos que estamos no caminho da comemoração dos «50 anos do 25 Abril» e a arte antecipando-se sinaliza do que não pode ser esquecido... Um ideia: organizar mostras e mais mostras a partir destes «capitais» ... E temos de reparar: o Teatro Nacional semelhante a outros ...

 

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