quinta-feira, 3 de setembro de 2020

AINDA A FESTA DO AVANTE ! | Sim, o nome é «campanha» e ... assusta. Afinal, é possível no Portugal de Abril

 


«Culpo a comunicação social, e em especial as televisões, pelo ambiente de histeria, irracionalidade e medo que se instalou na sociedade portuguesa. A comunicação social viu a COVID como um filão comercial. O medo é um importante indutor de consumo de noticias. E, de forma irresponsável e com ajuda de muitos médicos, comentadores, médicos-comentadores e autoridades, a comunicação social contribuiu para um ambiente que teve efeitos colaterais trágicos: pessoas com doenças que têm medo de ir ao hospital, crianças fechadas em casa durante meses, velhos isolados, problemas psiquiátricos agravados... Espero que alguém um dia venha a medir isto em mortes. Para além da crise económica e de um clima político persecutório, irracional e incapaz de lidar com a diferença de opiniões sobre os limites do que é aceitável impor por causa da COVID.

É tendo em conta este ambiente geral, e não tanto uma agenda político-partidária, que se deve olhar para o inacreditável tratamento que tem sido dado à Festa do Avante. Hoje, não escreverei uma linha sobre a realização deste evento. Deixo isso para sábado porque não quero que este artigo se desvie um daquilo que considero ser a forma como o PCP tem sido tratado na comunicação social. Ache o que se achar sobre a realização da Festa do Avante, o que a comunicação social está a fazer contra o PCP é inaceitável. Pela falta de rigor, desproporção de meios mediáticos usados, ausência de contraditório e impossibilidade de defesa por parte dos visados por tamanho massacre, aquilo a que temos assistido tem um nome: campanha.

Como já disse, deixo para outro artigo o tratamento substancial do tema. Apenas recordo que não vimos nada disto a 13 de agosto, quando milhares de peregrinos se juntaram no Santuário de Fátima. Nem perante o anúncio celebrado de duas provas automobilísticas em Portimão, que trarão dezenas de milhares de pessoas. Nem com milhares de pessoas na Feira do Livro, por onde se passeou o Presidente da República. Já nem falo de eventos de outros partidos que, aos olhos de todos, incumpriram regras e, mesmo assim, pedem explicações ao PCP.

Saúdo a tentativa de regresso à normalidade – da Igreja, das empresas, dos partidos – e estou disponível para debater as diferenças entre elas. Mas para isso era preciso que esse debate exista no espaço público. Quando se escolhe um alvo, se mantém insistentemente a mira nesse alvo mesmo que não haja notícias novas e se ignora tudo à volta, não há debate. Há campanha.

O episódio da primeira página da falsa “The New York Times”, que já tinha sido desmentida pelo Polígrafo, exibida no telejornal da SIC por engano, não faz parte da campanha. É um erro grave sem intencionalidade. Mas acredito que o ambiente de campanha instalado na generalidade das televisões e jornais tenha tornado este erro mais fácil. Porque quando se instala um ambiente de campanha uma página inverosímil passa a parecer verdadeira. E a correção, com o correspondente pedido de desculpas ao PCP e à organização da Festa do Avante, 15 minutos depois, não retirará do subconsciente de centenas de milhares de telespetadores uma imagem que casa com o discurso geral instalado.

Apesar de um ou outro jornalista poder ser influenciado pelas suas convicções políticas e de para PCP ser mais confortável atribuir esta campanha ao “anticomunismo” (não faltam aos comunistas brutais erros de comunicação nesta novela), penso que a razão é ainda mais triste. O clima mediático é o da selva: os caçadores pressentem as presas frágeis. O PCP é um alvo fácil. É um partido em queda eleitoral neste momento e sem qualquer influência na comunicação social. Não tem comentadores da sua área, não tem acesso à cúpula empresarial, nem sequer é muito eficaz no ataque viral. Se as televisões fizessem isto com a Igreja, quando foi a peregrinação a Fátima, ou perante qualquer evento com forte impacto económico seria outra a reação e outro o custo. Perante comunicados da Soeiro Pereira Gomes, falando de “anticomunismo primário” e “reacionarismo”, os diretores de informação sorriem. (...)» - Expresso | 3SET2020.

Sem comentários:

Enviar um comentário