quarta-feira, 9 de setembro de 2020

PARA OS QUE NÃO DESISTEM DE REFLETIR |«O que se passa à volta da Festa é um sinal preocupante da evolução da vida política portuguesa, a caminho de um cada vez maior radicalismo, no limiar da raiva e da violência. Pensam que é exagero? Infelizmente é só esperar»

 


 

O que se passou em torno da «Festa do Avante! 2020» está para lá da Festa do Avante!, e  seremos daqueles que temem que o que Pacheco Pereira escreveu no artigo do Público  de 5 de SET 2020 seja verdade (a que se refere a imagem inicial):«O que se passa à volta da Festa é um sinal preocupante da evolução da vida política portuguesa, a caminho de um cada vez maior radicalismo, no limiar da raiva e da violência. Pensam que é exagero? Infelizmente é só esperar». Já o dissemos neste blogue, a campanha contra o PCP a propósito da Festa do Avante! assustou. Assusta: e por isso quem gosta de pensar será razoável que não abandone o problema. Para ajudar trouxemos para aqui os dois artigos antes referidos. Ambos são «exclusivos», e conhecemos quem lhes tenha acesso e simplesmente não os tenha lido - estão no seu direito, preferem ficar  fechados nos seus argumentos  em muitos casos fracos, do género: sou contra a realização da Festa, pronto!

Por outro lado, haverá quem gostasse de ler os artigos e não pode. Para esses uma das vantagens do formato blogues é que podem ser gratuitos, e de acesso público. Neste quadro, de seguida o recorte do «Mais do que nunca, não há Festa como esta!». Comecemos por dizer que muitos por mais esforço que façam nunca  perceberão isto que lá está escrito:  «o orgulho e o empenho dos militantes comunistas na organização da Festa, bem como o esforço financeiro de muitos que contribuíram para a compra da Quinta da Atalaia (sobre a compra mais recente, naturalmente, não testemunho nada, mas adivinho igual empenho). Em julho e agosto, muitos militantes, adolescentes e adultos, iam para a Quinta para trabalhar e montar a estrutura da Festa». Agora  excerto alargado:

«Ontem terminou uma das mais polémicas, se não a mais polémica, Festa do Avante. Com uma exceção, desde a sua primeira edição o PCP nunca deixou de organizar esta sua convenção anual. Falharam um ano por não conseguirem arrendar espaço onde a montar. Daí resultou que o PCP decidiu comprar a Quinta da Atalaia, para garantir a realização da Festa todos os anos. Não só não falharam mais como, recentemente, compraram mais uns terrenos contíguos, aumentando o espaço.

Como ex-membro da JCP, testemunhei o orgulho e o empenho dos militantes comunistas na organização da Festa, bem como o esforço financeiro de muitos que contribuíram para a compra da Quinta da Atalaia (sobre a compra mais recente, naturalmente, não testemunho nada, mas adivinho igual empenho). Em julho e agosto, muitos militantes, adolescentes e adultos, iam para a Quinta para trabalhar e montar a estrutura da Festa. Não sou sociólogo para o poder afirmar com propriedade, mas quando Pacheco Pereira disse recentemente que esta Festa faz parte da identidade do PCP isso não me pareceu um disparate.

Este ano o PCP teve de fazer uma escolha difícil e escolheu o caminho politicamente mais difícil: organizar a Festa. Saúdo-os por isso, mas os riscos eram elevados e sabiam-no. Desde o início que foi claro que os portugueses não toleravam que alguém se divertisse durante a pandemia.

Viu-se nas reações aos jovens nas praias a seguir ao encerramento das escolas. Os miúdos fizeram o melhor que tinham a fazer perante uma doença respiratória — sair do espaço fechado que são as casas e ir para o ar livre —, mas com a revolta que se seguiu todos acabaram fechados em casa. Durante semanas, quem saía era perseguido por moralistas que, por vezes, se queixavam às autoridades. Polícias ordenavam que famílias com crianças a brincar nos jardins fossem para casa, como se estar no jardim não fosse muito mais saudável do que estar fechado entre quatro paredes. Também eu e as minhas filhas ouvimos insultos quando passeávamos, sozinhos e no meio de árvores, com a nossa cadela.

Perante este ambiente de censura a tudo o que é divertimento, claro que a Festa não se poderia realizar. Quem é que os comunistas pensam que são? Então não sei quantos festivais foram cancelados e na Festa vai haver música? Que o espaço tenha todas as condições para acolher vários milhares de pessoas (cerca de 30 campos de futebol, caramba!), que o PCP tenha mostrado disponibilidade para acolher as regras da DGS, por excessivas que fossem, e que o PCP já por diversas vezes tenha mostrado grande capacidade organizativa não interessava.

Consciente ou inconscientemente, os órgãos de comunicação social participaram nesta campanha contra o PCP, criando um ambiente que, quase de certeza, teve um impacto negativo quer na opinião pública quer na DGS. Foram tantas as notícias absurdas que não resistem a um olhar minimamente crítico que é impossível dar conta de todas.

A competição pela notícia mais caricata é renhida. Uma das minha preferidas foi da TVI que, no dia 4, noticiou que as excursões para a Festa do Avante eram secretas. Que as excursões estivessem noticiadas online e até numa página inteira do jornal "Avante!" era um pormenor. A outra foi no Jornal da Noite, na SIC, quando uma pivot tão boa e competente como Clara de Sousa apontou para um video wall com a suposta primeira página do "New York Times" dizendo que em Portugal, num suicídio coletivo, se ia organizar uma festa chamada Avante, com 33.000 pessoas. Independentemente do absurdo que seria o "New York Times" fazer capa com a Festa do Avante, há mesmo alguém naquela produção que considere minimamente crível um título do NYT falar em suicídio coletivo.

Estes dois exemplos dão vontade de rir. Mas há outros mais subtis como quando, a 5 de agosto, noticiaram que a Festa rendeu 2 milhões de euros em 2019 para, em setembro, a mesma estação televisiva noticiar que a Festa dá prejuízo. Nos últimos anos, os prejuízos acumulados somam 2 milhões de euros. Não acham que assim se torna difícil levar as notícias a sério?

Claro que os jornalistas não fazem de propósito para dar notícias absurdas, que rapidamente são desmentidas, muitas vezes até pelos próprios. Ninguém faz figura ridícula de propósito. O problema será outro e corresponderá a um dos enviesamentos cognitivos mais conhecidos da Economia Comportamental: temos uma enorme disponibilidade para acreditar em qualquer disparate desde que confirme as nossas crenças. (…)».

 

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A grande sobra: com todo o respeito pelas regras sanitárias, cumprindo o determinado pelas autoridades competentes, não tenhamos medo, aperfeiçoemos argumentos, e trabalhemos para que, em especial, se encontre o tal NOVO NORMAL minimo que tire a cultura e as artes do sufoco em que se encontram. Que tire da fome profissionais em desespero...





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