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A SITUAÇÃO EM PORTUGAL, VISTA POR UM FREELANCER
Rui Freire, baterista freelancer desde 1997, tem colaborado com vários artistas e projetos da cena musical portuguesa, entre eles Pedro e os Lobos e a cantora Rita Redshoes. Trabalha igualmente nas suas próprias bandas, onde é compositor. Para ele, como para muitos outros a crise bateu em cheio. "Ainda hoje estive a falar com um colega que não é músico, mas técnico, e diz que vai ter muita dificuldade. A partir de outubro, vai ser possível expulsar os inquilinos, cortar a água e a luz. Até agora, isso não era possível."
"Acima de tudo, estou surpreendido por a classe artística ter demonstrado algo que eu sabia, mas pensava que poderia mudar", acrescenta. "Não vejo esta classe a unir-se para arranjar alternativas. Se vivêssemos nos anos 90, esta pandemia não seria tão grave. Não poderias dar concertos, mas podias gravar e vender música. Um dos problemas que contribui para muitos músicos terem de mudar de profissão é que neste momento não há alternativa a tocares ao vivo. É uma grande injustiça. Se as pessoas consomem a tua música em casa, devias poder ganhar com isso. Mas o streaming paga pouquíssimo".
Com um bom número de concertos marcados para o verão, ele viu todos serem cancelados nos últimos meses. E quando iam finalmente recomeçar, foram os elementos naturais que intervieram. "Era para ter tocado na sexta-feira, mas por causa da chuva foi adiado. Tenho coisas marcadas, mas estou na dúvida se vão acontecer."
Apoios do Estado não resolvem a situação. "Uma pinguinha da segurança social, uma coisa muito mínima, e mesmo isso vai acabar agora", explica. "Podes continuar com outro subsídio, mas durante três anos ficas a pagar o que eles te vão dar agora. São 400 e tal euros por mês entre setembro e dezembro, salvo erro, e depois ficas a pagar 60 euros por mês à segurança social durante três anos".
Diz que não vai recorrer a esse esquema. "Sei lá que trabalho vai haver depois. Posso não ter nada e mesmo assim estar obrigado a pagar os tais 60 euros por mês. Sendo freelancer, não tenho direito a subsídio de desemprego. A lei é tão estúpida que tens direito ao subsídio se o teu trabalho for em grande parte para uma única entidade - ou seja, basicamente, se for um falso recibo verde. Um verdadeiro recibo verde, que já é por natureza mais precário, não tem direito."
Em suma, tudo são incógnitas. mas à partida as perspetivas estão longe de ser positivas. "Tenho ouvido gente a dizer que vai deixar a profissão. Depende muito do que se passar a seguir. O tempo que isto ainda durar, o dinheiro que vem da Europa".
Com as atuações ao vivo é que se pode contar pouco neste momento. "Concertos, só com muito pouco público. A regra é um terço, acho eu. Para os privados não é viável, portanto só existem os concertos organizados pelas Câmaras"».
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