segunda-feira, 7 de setembro de 2020

PARA O NOVO NORMAL NA CULTURA | ... buscar também na Festa do Avante!

 

E cá estamos novamente com a Festa do Avante!. Impossível assim não ser.  Mais do que uma campanha contra o PCP, foi um massacre a todos aqueles que viam utilidade na realização da Festa ... Até, bem vistas as coisas,  roçou a falta de respeito por muitos que acreditam   que  tem obrigação de participar na busca de um novo normal que, nomeadamente, traga novas possibilidades de trabalho aos profissionais da cultura. Mas de pouco valia o apelo a alguma racionalidade: para ver, ouvir e ler é preciso querer. E não queriam. Havia ânsia, isso sim, em  engrossar a campanha - não ficar de fora. Estar dentro do ambiente, alinhados com quem estava a dominar o espaço público. Houve como alguém escreveu até algo de ridiculo. Houve também, visivelmente, incompetência.     Bem sabemos, também vimos artigos e falas aqui e ali a chamar para outros pontos de vista, mas foram afogados... Artistas ainda emitiram a sua opinião  «a favor», mas poucos lhes deram espaço e muitos menos amplificaram, como fizeram a quem «estava contra».

Este período vai ter que ser estudado. E isso nem será para fazer justiça ao PCP, a que tem direito,   mas para se defender o viver democrático. Em especial, o jornalismo digno desse nome. 

Deste periodo, até tem «alguma graça» ver os  ziguezagues de comentadores de direita: começaram pelas razões sanitárias e culminaram a alinhar com comentadores de esquerda numa união inesperada. Afinal, o que queriam era ajudar o PCP: dizem eles,  não está a saber ler a realidade, e ao realizar a Festa do Avante! está a cometer o mesmo erro que cometeu ao entrar na «geringonça» -  termo que raramente utilizamos mas aqui justifica-se. Estamos conversados. Também fazem lembrar aqueles espectadores que depois de verem um espectáculo, um filme, ou qualquer outro acontecimento cultural, têm sempre algo a criticar, do género, «se fossem eles fariam de forma diferente ...». Só que não são: aquela é a oferta, a proposta ... Certamente, criticável ..., com argumentos sérios ... Nunca a crucificar no Pelourinho. Estamos em crer que o tempo - esse «grande escultor» - vai fazer luz sobre este período «fusco» (palavra que há muito ouvimos a um velho militante do PCP, que infelizmente já não se enontra entre nós).

Em particular, ainda não conseguimos atingir o que o Senhor Presidente da República quis dizer com aquela de ser uma questão «de imagem e de percepção» ...). Também parece que as razões de sáude pública degeneraram em assunto «politico», em torno de um favor que o Governo terá feito ao PCP ao permitir que se realizasse a Festa. Senhor Presidente, ou acredita nisso ou não. Caso a resposta seja «não», salvo melhor opinião, o Senhor Presidente deve pôr «água na fervura» e não alimentar a fogueira ... Deixe-se isso, ainda que inaceitável, para os comentadores ...


É neste caldo de perplexidades  mas  em busca do tal NOVO NORMAL que aqui para já arrolamos o seguinte:


- A intervenção de Jerónimo de Sousa no último dia da Festa  - palavras fortes, suportadas por imagens com beleza, que deixaram comentadores de direita «sem palavras», melhor, a elogiar, dizendo que a Festa podia ter sido apenas aquilo...

 


 

 Tirada daqui


Excerto a que se refere a imagem inicial:

«(...)Não estamos aqui apenas para escutar a palavra das intervenções. Estamos aqui, cada um de nós, todos nós, a dizer aos trabalhadores, ao povo português, que podem contar connosco, que podem contar com o PCP em todos os momentos, em todas as situações.

Estamos aqui, assegurando as normas sanitárias, porque temos um compromisso com os trabalhadores, pela concretização das suas aspiração ao trabalho com direitos e a um salário valorizado e justo.

Estamos aqui para reafirmar o nosso compromisso com a defesa dos direitos e liberdades democráticas, nas empresas, na rua, lá onde se impuserem usá-los para defender o direito à greve, ao protesto, à manifestação, à acção sindical e cívica em todos os domínios das suas vidas.

Estamos aqui porque jamais aceitaremos ser arrastados para o pântano do conformismo sonhado pelos que vivem da exploração, neste tempo de agravamento de todos os problemas nacionais.

Estamos aqui, respeitando as normas sanitárias, para reafirmar que não abandonaremos a linha da frente do combate por melhores condições de vida para o nosso povo, pelo seu direito à saúde, à educação, à segurança social, à habitação e à mobilidade, e dispostos a construir um Portugal com futuro.

Estamos aqui, e essa é uma razão acrescida, para combater o medo e para dar esperança e confiança na luta pelo futuro.

  «(...)

Dias difíceis igualmente para a cultura que viu agravados problemas antigos de desvalorização sistemática do conjunto das suas actividades.

Permitam-me que aproveite para saudar todos os artistas, técnicos e outros profissionais da cultura que aqui participam nesta realização ímpar e neles todos os outros pelo País que estão hoje a ser fortemente atingidos nas suas vidas e produção. Para nós a cultura não é descartável!

Somos uma força que tem como objectivo a realização e o bem-estar em todas as dimensões da vida humana. (...)»

 

Artistas que atuam no “Avante!” encaram o evento como “uma experiência coletiva” para uma nova normalidade

 

 

(no Semanário Expresso desta semana)


- Recorte  ( da autoria de Tiago Soares) do trabalho maior  a que se refere a imagem:

«Uma “prova de confiança”. É assim que Tim, músico dos Xutos & Pontapés, define esta edição da Festa do “Avante!”. “Não tem a ver com o que vamos ganhar, mas sim com a experiência coletiva que vai ser feita. Se o ‘Avante!’ não correr bem, dificilmente qualquer outra coisa irá correr bem, e a perspetiva fica negra. Por isso é que isto tem de acontecer”, afirma.

A banda de rock será cabeça de cartaz do último dia, amanhã: os Xutos estão a preparar um concerto “normal”, e é exatamente por isso que o espetáculo pode ser especial, explica o seu vocalista. “Já voltámos a fazer concertos com público sentado e o ambiente é diferente, mas a música até ganha. Em Gaia não fizemos nada de especial, e no fim as pessoas disseram que aquele tinha sido um alinhamento para ver sentado — mas o alinhamento foi o mesmo de sempre!” Ou seja, nestas condições, a música pode ajudar a experiência coletiva a tornar-se também uma “experiência mais pessoal”. Tim não foge à questão política: “O PCP foi contra toda a opinião corrente ao manter a festa, e deu o flanco a uma série de ataques, como a [tentativa de] providência cautelar.”

O pianista Mário Laginha, que tocou no primeiro dia do evento juntamente com o fadista Camané, diz que o tema tem sido “muito espremido” por se tratar do PCP, e distancia-se do lado político: “Quero muito que aconteçam concertos, a Fórmula 1, Fátima, tudo, e que as pessoas tenham cuidado. Esta guerra de ‘a minha sim [pode acontecer], a tua não...’ não sinto as coisas assim.”

Quanto às questões sanitárias, o pianista nota que “tudo deve ser discutido e isso é saudável”, e lembra que “outros países estão a confrontar o problema com diferentes opções”. “Vi no outro dia imagens de um concerto de ópera, creio que em Viena, em que os lugares estavam todos preenchidos, com as pessoas de máscara”, diz Laginha. Na sua opinião, está-se a subestimar o civismo dos jovens. “Aquele argumento de ‘já fui à festa, sei como é que as coisas são’ não faz sentido. Claro que foi assim, mas [antes] não havia limitações algumas. Agora é diferente. Quero acreditar que os jovens sabem isso e vão cumprir”, considera. “Vou porque vou tocar em segurança. Quero muito continuar saudável, porque se ficar infetado deixo de trabalhar.”

Mais concertos para todos é também o foco de Pedro Valdjiu, mentor da banda Blasted Mechanism, que atua hoje no palco 25 de Abril da Atalaia: “O sector da cultura já sofreu muito e precisa de trabalhar. Este clima de ódio não faz sentido. Nós não temos nenhuma cor política e só queremos dar o máximo no concerto, como sempre fazemos.” Quase todos os artistas que vão participar no “Avante!” contactados pelo Expresso reforçam esta ideia: o tema tornou-se tão “tóxico” pelas discussões políticas “sem sentido” que preferem não acrescentar “ruído” à discussão.

“TENHO 75 ANOS, SE NÃO ME SENTISSE SEGURO NÃO IA”

“Esta campanha vergonhosa é significativa do espírito que há relativamente ao PCP. Tenho estado na Feira do Livro [de Lisboa] todos os dias e estou convencido que, com as limitações que a DGS colocou, o ‘Avante!’ não terá tanta gente. E não vi nenhum protesto pela realização da feira.” A opinião musculada é de Zeferino Coelho, histórico editor da Caminho, que irá estar na Quinta da Atalaia hoje, para moderar um debate com o escritor João de Melo. “Costumo levar mais autores, este ano só levo um, e a imposição partiu do próprio PCP”, detalha.

O ex-editor de José Saramago assinala a “importância política” que o “Avante!” terá para o partido, mas considera que a sua realização ultrapassa essa prova de força. “Eu tenho 75 anos, faço parte do grupo de risco e estou perfeitamente tranquilo. Se não me sentisse seguro não ia. Se as atividades forem feitas com cuidados, ainda bem que são feitas. Porque é que tem estado tanta gente na Feira do Livro, mais do que em anos anteriores? Porque as pessoas precisam de sair à rua e retomar a vida. Temos todos de fazer isso. Se nos fecharmos em casa cheios de medo e pavor vamos pelo mau caminho.” Tim evoca a nova canção de Sérgio Godinho, ‘O Novo Normal’, lançada há poucos dias: “É mesmo isso, um novo normal. Aprender a viver com o vírus. Temos de ter convívio, sair à rua, mas de forma disciplinada e com respeito uns pelos outros.”».

 

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