segunda-feira, 14 de novembro de 2022

«Eu, Ministro da Cultura»

 

 

Não importa o lugar, o Senhor Ministro da Cultura vai dizendo o mesmo ... Nomeadamente, fala-nos de coisas como só ele as tivesse descoberto e mais ninguém as tenha detetado. E há um lado cândido: mostrando humildade ?,  vai-nos dando conta da sua aprendizagem em Ministro. O registo será ainda o de comentador, com um discurso redondo, com quem ninguém à partida para uma grande parte dos assuntos estará em desacordo. Dá ideia que procura ser «um integrado marginal». Não deixa de ser notada a maneira como se centra em si e não no Governo como um todo ... Estará em busca de ser quase «ideólogo». Veja se não temos razão lendo, por exemplo, o seu «discurso» aquando da ida ao Parlamento a propósito da audição sobre a proposta do Orçamento do Estado 2023 a que se refere a imagem inicial. Excertos:

«(...)Quando aqui estive há seis meses, para apresentar o Orçamento para 2022, comecei por reconhecer que a área da Cultura tem historicamente sofrido de subfinanciamento. Essa constatação é tão ampla, esse diagnóstico é hoje tão partilhado na sociedade portuguesa, que me referi ao problema como o “elefante na sala”. Afirmei então que tínhamos um compromisso claro, estabelecido no programa de governo: aumentar progressivamente o investimento em Cultura, para atingir, no final da legislatura, 2,5% da despesa discricionária do Estado. (...)»

 
**********************

«(...) Com a mesma clareza com que há seis meses identifiquei o subfinanciamento como o principal problema, quero agora estabelecer que a nossa prioridade para 2023 serão os Museus, os Monumentos e os Palácios nacionais. Há um diagnóstico que é grave e que está feito: museus e monumentos carecem de um reforço urgente de recursos humanos e precisam de maior autonomia na gestão, que lhes permita, entre outras coisas, diversificar e expandir as suas fontes de receita. A modernização que estamos a levar a cabo tem uma componente propriamente tecnológica (que se traduz na digitalização de acervos, no âmbito do PRR), mas tem de ir além disso. Museus, palácios e monumentos nacionais são o que fica: eles dão forma concreta, material, à experiência e à memória das pessoas que, por gerações e gerações, habitam este país. Uma comunidade existe na medida em que tem consciência daquilo que foi sendo, e museus, palácios e monumentos são repositórios da história, que reforçam o sentido de pertença na vida coletiva. Mas o património não é só um conjunto de edifícios e de objetos, e a sua missão não pode ser vista apenas como a preservação estática daquilo que já existe. O património não é um arquivo morto; pelo contrário, ele realiza-se na relação que estabelece com os vivos. A Cultura é preservação e criação, é a relação dinâmica entre preservação e criação, é usar o passado para construir coisas novas. Portugal não é uma entidade estática. Uma comunidade que está viva renova-se, e o património serve também para estimular a criatividade. Os palácios, museus e monumentos nacionais levam as pessoas a quererem conhecer os lugares e têm por isso a capacidade de revitalizar o território: devemos encará-los também como parte de uma política de desenvolvimento económico e social. (...)»

 **********************

 «(...) Desde o início do meu mandato, tenho procurado estar atento e conhecer a dinâmica cultural no conjunto do país, e não só aquilo que se faz nas grandes instituições. Acredito que a Cultura não pode ser tratada de maneira rígida, assente numa relação de poder extremamente desigual entre aqueles que a produzem nas grandes instituições e aqueles cujas expressões 6 artísticas são completamente desvalorizadas, por estarem fora delas. O campo da Cultura deve ser tratado como um só, sem demasiados espartilhos ou hierarquias. Para quebrar barreiras sociais – para que camadas mais amplas da população se aproximem do teatro, do bailado, ou até da ópera – é preciso que as grandes instituições estejam atentas e disponíveis, que não olhem de cima para baixo, para a Cultura que emerge fora destes espaços institucionais. Às vezes pensa-se na Cultura apenas em termos das grandes obras, mas a Cultura é também o vínculo social, o laço comunitário, o elemento aglutinador que nos dá um sentido de pertença e de participação na vida coletiva. Por isso penso que devemos encarar a Cultura não apenas como parte da educação formal – no sentido clássico da “cultura geral” – e também não como mero entretenimento, mas como um elemento central da cidadania. A Cultura e a democracia devem andar juntas, porque elas precisam uma da outra».

 ____________________

 

Por fim atentemos nesta passagem: «Os problemas que são estruturais não se resolvem com remendos de  curto prazo. Precisam de soluções baseadas no estudo e no planeamento. É isso que estamos a fazer». Ora, as oposições de esquerda é o que têm dito continuamente. O Sindicato CENA-STE  repete-o sistematicamente utilizando praticamente aquelas exatas palavras. Senhor Ministro - melhor, Senhor Primeiro Ministro - , ao Governo exige-se então que assuma que só tem feito remendos e que nos diga como vai fazer ESTUDOS E PLANEAMENTO. Com o Ministério da Cultura (que verdadeiramente não existe) tal como está não se vê como vai acontecer ... As palavras ditas são pouco ou nada.

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário