sexta-feira, 6 de outubro de 2023

NAS CONVERSAS COM O PÚBLICO NO TEATRO MUNICIPAL JOAQUIM BENITE A PROPÓSITO DA PEÇA CALVÁRIO DISCUTE-SE TEATRO E OS SEUS FAZEDORES



As Conversas com o Público no TMJB são marcadas por uma rotina desejada - a propósito de uma peça em cena, no mesmo sitio, à mesma hora, em sábados ..., e até já conquistaram, como dizer,  público participante cativo. E tem também outro lado fixo, a duração. Já foi de 1 hora, mas agora consegue chegar a 1h30, sem drama. Diga-se, desde logo, que nós -   temos lá presenças habituais - detestamos este tempo contado em conversas. Enerva-nos. Compreendemos as razões mas há que arranjar uma solução que torne as conversas «sem tempo contado». Retomando o fio à meada, há um lado igual em todas as conversas, mas depois existe a DIFERENÇA em cada uma delas: trazida pelo espetáculo em palco;  necessariamente pelos «animadores de serviço»; pelas intervenções vindas da assistência; ... Já beneficiamos «de verdadeiras lições» de fazer inveja às melhores faculdades, mas também aconteceram situações caóticas, «sem freios», verdadeiras enxurradas,... Talvez das mais criativas: confessemos, gostamos disso ..., deste atuar «sem rede». De facto, conversas de «luva branca», vigiadas, nem sempre atingem o pretendido. Resumindo, recomendamos as CONVERSAS COM O PÚBLICO DO TMJB. Pelo que lá acontece e pelo que se leva para casa para continuar a conversar com quem e onde  calhar. É o que está a acontecer  neste momento com este post depois da primeira conversa do ciclo em curso, na imagem acima  ... Veja o calendário.  E da Folha do Ciclo:

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Não fosse a Conversa do sábado passado e no blogue Em Cada Rosto Igualdade não se teria chegado a este post: PARA UMA MELHOR SAÚDE MENTAL | não esquecer a força da cultura e da arte ... Mais, a peça onde tudo começa - CALVÁRIO - já nos levou a outras paragens:  naturalmente pelo que nos tocou;  o que já se escreveu sobre o espetáculo; o conversado e o previsto ...  (Ah, dizem que é uma comédia, mas deixemo-nos de etiquetas,  podendo sê - lo,  se os especialistas o dizem,  a nosso ver é mais do que isso, e não enjeitará outras catalogações, não se tendo nada contra aquela). Sim, já nos levou a outras paragens, a outras atenções. Em particular a ponderar esta transcrição:


Não será preciso ser-se especialista para se chegar à ideia que as atuais conversas são em torno do TEATRO e dos seus profissionais. O destaque que é dado para a próxima: 
 
Por este meandros demos connosco a recordar MÁRIO BARRADAS e o que José Peixoto escreveu sobre ele:



HORÁCIO de Corneille
 Évora - Julho de 1985 - Mário Barradas: actor e encenador
Fotos de Luís Varela

«(...)

 Ensinou-me por exemplo que fazer Teatro era uma profissão muito digna e não uma alegre fantochada, meio caminho entre o comércio  da figura ao serviço dos bens de consumo e o ridículo dos que têm da ser sempre belos e engraçados para sobreviverem no teatro e na vida.
          Ensinou-me que assumir uma atitude ou um discurso diante de um público nos acarreta uma grande responsabilidade social e que só podemos oferecer aos outros aquilo em que nós próprios acreditamos convictamente. E que não podemos ter um discurso para os outros e uma prática privada negando o que afirmamos na cena.
          E falava-me de Dullin e de Jouvet e de Vilar e como Gérard Philipe esperou que Vilar acabasse o ensaio para se oferecer para actor da sua companhia.
          E lia-me os clássicos e demonstrava-me como eles eram ainda actuais e serviam o nosso tempo, como se aprendia com eles tanta coisa sobre a condição humana, sobre  o presente e o futuro da nossa sociedade.
          E foi o primeiro que me disse claramente para que servia o Teatro - que não servia para nada se não servisse para  mudar o mundo e não nos tornasse pessoas mais lúcidas, mais responsáveis, mais dignas e mais nobres nos comportamentos, nos sentimentos e nas opções dos caminhos a percorrer na vida.
          E olhava a realidade nos olhos, sem ilusões e sem fantasias  e sabia as dificuldades que tinha que enfrentar.
          Conheci-o quando me levaram para Moçambique, para uma guerra que não era a minha e encontrei-o a fazer Brecht, esse autor maldito, proibido na metrópole e que ele conseguia fazer na colónia, convencendo a censura que O que diz que sim e o que diz que não era uma peça didáctica ou seja uma peça para crianças. E a censura acreditou.
 (...)»   
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(na Homenagem que o CENDREV fez ao Mário Barradas, no dia Mundial do Teatro de 2010, que vem na linha do que José Peixoto tinha dito aquando do funeral do Barradas e que tinha já sido notado.  É um belo texto e  pensamos que   pode ser um contributo para uma história do Teatro no nosso País). 
 
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ONDE NOS LEVAM AS CONVERSAS NO TMJB! JB de Joaquim Benite. Nunca é demais lembrar. 
 
 
 
 
 

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