«Após leituras de Raul Brandão em Húmus (2010), Ilhas (2012) e A Farsa (2014), ou de Alves Redol e Manuel Ribeiro de Pavia com Fanga (2023), a Karnart dedica-se a Finisterra, um projeto de perfinst a partir do romance homónimo de Carlos de Oliveira, publicado em 1978. Os papéis de Finisterra parecem especialmente adequados ao trabalho desenvolvido pela Karnart: não apenas por preocupações temáticas mas por causa do próprio conceito de perfinst, que junta performance e instalação. O livro conta a história do fim de uma casa e de uma linhagem; mas estilhaça o tempo e é também, como diz Manuel Gusmão, uma “representação de representações” obcecada com “uma série de artefactos”. Estamos, assim, entre a colecção de objetos (a instalação) e os restos da ficção (a performance), que é afinal uma maneira de ler o subtítulo do livro: Paisagem e Povoamento.
A uma curta carreira de quatro apresentações no Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, segue-se o alinhamento de quinze espectáculos no Gabinete Curiosidades Karnart. Quatro intérpretes dedicam-se, iluminando-as e acrescentando-lhes objectos-chave, em correspondência com trinta e dois dos capítulos da obra escrita, a quatro estações de oito paragens de instalação objectual. O trigésimo terceiro dos capítulos do espectáculo, que corresponde ao vigésimo quinto da obra escrita, configura uma instalação performativa comunitária localizada em zona diversa do espaço, onde a linhagem patriarcal se suprime em função da vertente feminina que, deificando-se, se resgata.
Enquanto projecto volante que obriga a uma relação de grande proximidade com o aparato artístico instalado, Finisterra deve ser desfrutado com calçado confortável e sem malas, mochilas ou outros objectos pessoais, que fortemente se aconselha fiquem depositados no bengaleiro».
Sinopse
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