Wilson Ledo wilsonledo@negocios.pt10 de abril de 2020 às 11:54 |
Excertos:
«(...) "A grande questão é que esta crise está a trazer ao de cima as fragilidades mais profundas do setor, que nunca foram tratadas", aponta Cíntia Gil, membro da direção da Apordoc – Associação pelo Documentário. Em resumo: financiamentos que sempre foram insuficientes e uma política de apoio assente na produção e não no trabalho artístico como um todo.
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Depois da notícia, os agentes do setor logo perceberam que aceder ao dinheiro não ia ser fácil. É que estes valores estão sujeitos a candidatura, embora esteja prevista a prioridade para quem não recebe os habituais subsídios do Estado. Os que já recebiam esse apoio, mantêm-no.
"Esta linha de emergência falha redondamente: prazos apertados, sem formulário, imensas incongruências nos regulamentos. Temos de propor uma criação com todos os aspetos detalhados, como orçamento, calendarização ou fundamentos. Isto quando a obrigatoriedade da execução e apresentação é facultativa. Não faz qualquer sentido", explica o artista visual e "performer" João Pedro Fonseca.
Na prática, os artistas tiveram de entregar até ao dia 6 de abril novos projetos, novas criações. "São, na verdade, novas candidaturas. Isto significa que há artistas que não vão ser elegíveis e não vão receber financiamento", simplifica Sara Barros Leitão. Com o mundo de portas fechadas, há poucas alternativas à vista para quem faz da arte a sua vida.
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Uma das ideias vem, precisamente, de uma discussão que já está a ser tomada além fronteiras. Com o avançar da pandemia, o conceito de rendimento mínimo universal – que garante um valor mínimo para o pagamento das necessidades básicas – tem ganho novos adeptos. "A Cultura, como a Saúde ou a Educação, não pode passar por lógicas de mercado", reforça Cíntia Gil. Os valores das rendas, por exemplo, têm subido em flecha nos últimos anos. E o apoio de 438 euros previsto para os recibos verdes não será, em muitos casos, suficiente.
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Mas de uma sensação generalizada a ministra da Cultura já não se livra: a de que conhece mal o setor que tutela. "O que começa a parecer é que há um desconhecimento de fundo do sistema cultural e artístico", diz Marco Paiva. "Há todo um fluxo artístico que é ignorado e isso reflete-se, depois, nas preferências dos apoios", completa João Pedro Fonseca. (...)»
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