(montagem)
Estivemos lá, no «acto complementar» de 13 de
julho - Colóquio na esplanada em torno do espectáculo «Mártir». Embora não
gostemos muito de falar dos espectáculos - parece que lhes usurpamos o mistério
que queremos que fique e alimente o conhecimento e o prazer (ou não) que nos dá
para o seu futuro em nós... Mas, contradição, gostamos - quem não gostará ? -
das reflexões que estes encontros provocam como quem não quer a coisa
..., uma intervenção puxando outra, como as cerejas, ao sabor da conversa. E,
por vezes, quanto mais caótico, melhor ... E uma vez mais isso aconteceu em
Almada no colóquio do dia 13. Aquilo parecia um alfobre, onde as ideias
iam medrando ... A particularidade deste ano, à partida: sentimos uma atmosfera
diferente, sem que se tenha perdido a «alma» do Festival: tudo parece mais
devagar. E devagar magnifica. Há uma «calma maior» de que estavamos a precisar:
vem das exposições e demais «actos complementares», e até na maneira serena com
que nos acolhem na recepção, ou na cafetaria ... Bem, também nos irrita «o
complementar» (não é apenas falar dos espectáculos) porque defendemos para cada acto uma centralidade, e o
complementar como que lha retira, mas percebemos desde há muito a sua razão,
logo que contactamos com a fórmula, na circunstância o que se queria
sublinhar é que acima de tudo o que verdadeiramente se persegue é o TEATRO. O
Teatro como organizador do que vai acontecendo. O grande manto. E ainda mais nos
irrita «o complementar», muitas vezes apelidado de «evento», em que, olhando
bem, um somatório deles nos leva a modalidades de apoio designadas de
Transdiciplinares ou equivalente. Mas se só para não nos esquecermos
destes assuntos já teria valido a pena esta ida a Almada num fim de tarde
quente, ela trouxe muito mais, e a nosso ver «aqui e agora» de grande
utilidade. Longe de esgotar o que se retirou do que lá aconteceu alguns
apontamentos de seguida.
- Desde logo a vista daquele belo Cartaz do Festival, serenidade, força, actualidade, onde se acentua «AQUI E AGORA. ACONTECE». Ao mesmo tempo ao olharmos para ele também se vê a rua, vista real que nos leva a marca da Companhia de Teatro de Almada, e particularmente do seu Festival, sendo internacionais, estão mergulhados no LOCAL. E no NACIONAL. Aliás isso foi bastante falado ao longo da conversa. E se assim não fosse, dizemos nós, eventualmente este ano não haveria Festival.
- E como foi possível o FESTIVAL? Como o Diretor Artístico Rodrigo Francisco vai dizendo, com uma naturalidade espantosa, como não podendo ser de outro jeito, porque não pararam de trabalhar. Ou seja, possivelmente sem o saberem, eles seguiram de forma profissional, porque já é a sua prática, um modelo de gestão tecnicamente provado, e recomendado pelos melhores, a Abordagem Sistémica-Contingencial. De tanto ouvirmos falar do Plano de Contingência a propósito da pandemia tememos que a «Contingência» fique para sempre ligada ao virus COVID. A uma parte da vida das organizções. Mas não, a CONTINGÊNCIA hoje está no âmago da Gestão e tem de considerar tudo, a todo o momento: o todo que se passa à volta e o todo que acontece dentro. É isso, a Companhia de Teatro de Almada, como qualquer outra organização é um SISTEMA - que se tem de (re)pensar permanentemente «aqui e agora» para atuar neste presente cheio de problemas e mudanças e ir ajustando a sua visão estratégica ... Parece fácil?, não é ... Trabalhar por cenários exige conhecimentos vários, cumplicidades, automatismos, ... O que exige tempo. E aqui o Ministério da Cultura teria de ser o primeiro a reflectir a sua forma de trabalhar. Ah, aqueles formulários que vêm da DGARTES! Aquelas exigências dos regulamentos, burocráticos sem fim ... Em vez de facilitadores, só complicam. Sem que se veja razões de ser.
E foi por aqui que veio à memória o
«velhinho artigo» do «Pai da Gestão» - Peter Drucker - com o titulo «What
Business Can Learn from Nonprofits» que fez furor na altura, e a nosso ver
continua atual, aliás uma linha de trabalho que foi continuada pelo mestre:
Leia aqui
(Existe em português em livro com outros artigos)
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Simplificando, há uma sabedoria na Companhia de Teatro
de Almada que tem de ser rendibilizada. Senhor Presidente da República, faça
por isso, para lá dos Prémios, aos próprios e aos que eles elegem. É bom ouvir
que aquele não é mais um Festival, é «o Festival». Mas o que se andou para aqui
chegar, devemos interrogar-nos. E não podemos esquecer, têm de nos dizer,
o que se passa com os financiamentos da Administração Central, nomeadamente
através do Ministério da Cultura/DGARTES. Como devemos estar cientes de que
facilmente as coisas desmoronam, e estes nossos tempos é isso que nos estão a
dizer «ao ouvido» permanentemente. Não, não é com a Rede de Teatros e
Cine-teatros (mas que designação mais datada) com que nos acenam como «salvador
da Pátria» que vamos lá, e a que o Senhor Presidente, aliás, colocou reservas.
Como uma possível sintese: crie-se um real Ministério da Cultura.
- Mas o colóquio era em torno do espectáculo «Mártir». Tantos ângulos de análise! Uma sugestão, que emergiu do que lá se foi dizendo: cruze-se o que se passou (quiçá vai passar) com o ensino e aprendizagem nas nossas escolas nestes tempos de PANDEMIA; olhe-se para o que o nosso Plano Nacional das Artes planeia fazer, e o que conseguiu fazer nomeadamente durante o confinamento; veja-se o que outros fazem, por exemplo em França, no actual contexto sanitário na esfera do ensino mas da responsabilidade do Ministério da Cultura; elenque-se o que existe no nosso País destinado à infância e juventude; ... E como resultado crie-se um verdadeiro PLANO na esfera da CULTURA E DAS ARTES não para substituir o SISTEMA DE ENSINO E APRENDIZAGEM do Ministèrio da Educação mas como Processo próprio do MINISTÉRIO DA CUlTURA (bem sabemos, o problema, como já dissemos, é que ele verdadeiramente não existe ...), e uma coisa é certa o ESPECTÁCULO «MÁRTIR», da Companhia de Teatro de Almada, que também está no Festival, estará lá...
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