sexta-feira, 17 de setembro de 2021

BIENAL DE ARQUTETURA DE VENEZA | «A exposição Radar Veneza — Arquitectos Portugueses na Bienal 1975-2021 propõe uma reflexão sobre a participação e representação portuguesa na Bienal de Arquitectura de Veneza desde 1975 até hoje»

 

Sobre a Exposição  no Público/Ípsilon de hoje:


que pode ler aqui.

De lá:

«(...) A exposição Radar Veneza é inédita e surpreendente. Pela primeira vez, foi realizado um estudo exaustivo sobre os vários momentos em que Portugal esteve representado em Veneza. Nunca antes tinha existido a oportunidade de colocar no mesmo plano um trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo de várias décadas. A exposição apresenta testemunhos de vários protagonistas, maioritariamente arquitectos, que assumiram responsabilidades na curadoria e na produção das exposições, ou ainda na sua divulgação e recepção crítica. É fascinante acompanhar estes vídeos e ouvir na primeira pessoa as várias vozes, sentir os vários posicionamentos, percebendo as opções tomadas, os contextos específicos, as condicionantes e as expectativas assumidas, segundo uma linha cronológica traçada desde 1975 até hoje.

Existe uma ideia forte que ressoa de imediato no título da exposição — a ideia de radar. Esta metáfora é feliz no alcance da sua operatividade enquanto instrumento de análise que traduz, desde logo, de uma forma franca e precisa, uma ideia de aproximação ao objecto de estudo por via indirecta. Segundo os curadores, o radar “permite imaginar novos reflexos e novas perspectivas”. A aproximação aos objectos de estudo é assim realizada através de ressonâncias que vão conformando uma imagem possível e passível de interpretação, permitindo explorar a hipótese de uma leitura de fragmentos dispersos, no tempo e no espaço, com escalas e posicionamentos variáveis.

A opção dos curadores ao convocar este instrumento de visão não é inocente. E é interessante perceber como este dispositivo curatorial nos transporta e coloca num campo de batalha tenso e silencioso: “O radar obriga os objectos invisíveis a transmitir a sua posição. Capta em eco as posições relativas de actores que talvez preferissem permanecer em silêncio.” Percebe-se então a intenção de forçar um diálogo. Há algo de violento neste exercício, como se pode confirmar na linguagem bélica pressentida na citação de Friedrich Kittler, que abre o texto dos curadores no livro Radar Veneza: “O radar é uma arma invisível que torna as coisas visíveis porque converte objectos ou inimigos que não querem ser vistos ou sequer medidos em transmissores involuntários e compulsivos.”

Fazer uma exposição sobre exposições não é evidente. Acaba por ser um exercício de metalinguagem, pelo facto de se utilizar a própria linguagem expositiva para analisar o que já foi exposto. A vantagem, neste caso, é possibilitar agora um olhar crítico, uma leitura distanciada que permite o estabelecer de relações numa avaliação mais assertiva e informada. Uma das mais valias desta exposição foi a possibilidade de realizar uma investigação iconográfica, da autoria de Ivo

Poças Martins, sobre os espaços que acolheram as representações nacionais em Veneza e os objectos neles expostos. A investigação assume um destaque singular no espaço central da grande sala da Casa da Arquitectura, numa paisagem intitulada Bairro Veneza — um “campo de desenhos levantados das arquitecturas que se sucederam em Veneza.”

Com projecto expositivo de Barbas Lopes Arquitectos, os desenhos surgem impressos em papel branco e estendidos numas finas peças metálicas vermelhas, dobradas e poisadas no pavimento, numa sucessão cronológica impactante de vários registos. Os desenhos são todos realizados com a mesma escala, em plantas e alçados pormenorizados, permitindo uma compreensão espacial dos diferentes momentos expositivos. Percebemos assim melhor a escala da cápsula do Body in Transit que Didier Fiúza Faustino apresentou em Veneza no ano

2000, a capela que Eduardo Souto Moura projectou em 2018 para a representação do Vaticano, ou os detalhes da fachada e os pormenores da obra de Alberto Carneiro na representação de 1976, num “momento de solidariedade revolucionária, em que a Finlândia emprestou o recém-restaurado pavilhão projectado por Alvar Aalto à representação portuguesa.”

O exercício metalinguístico desta exposição fica ainda mais complexo quando sabemos que um dos curadores da exposição, Joaquim Moreno, assumiu também o papel de curador na representação portuguesa em Veneza de 2008 com o filósofo José Gil, com o título Cá Fora: Arquitectura Desassossegada, marcada pela memorável instalação de Ângelo de Sousa e Eduardo Souto Moura com um grande espelho virado para o Grande Canal. Esta coincidência não terá acontecido por acaso. Como recorda Moreno, numa entrevista publicada no livro Radar Veneza a propósito da exposição Cá Fora, “tratou-se não de uma exposição, mas de um laboratório de experimentação.”

Quem quiser perceber por que razão vamos à Bienal de Arquitectura de Veneza, tem na representação Cá Fora um bom exemplo dos esforços necessários para responder ao desafio logístico que Veneza implica, desde a constituição de equipas capazes na produção das exposições até à partilha e construção de um pensamento. As 140 toneladas necessárias como contrapeso para sustentar os 200 metros quadrados de um espelho erguido sobre o Grande Canal constituem uma boa imagem do esforço necessário para representar os arquitectos portugueses na Bienal. (...)».

 

 

 

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