É verdade, fomos apanhados, com intensidade, pela divulgação do FESTIVAL «TODOS» deste ano, nomeadamente por uma reportagem na televisão, e pelo cartaz da imagem. E há razão adicional especial: no Elitário Para Todos há quem more «ao lado» da freguesia de SANTA CLARA, ou seja, na do LUMIAR - e nesta, que é enorme, a «olho», vê-se que coexistem vários estratos sociais com proveniências várias. Partimos da ideia que o mesmo acontecerá no território «ao lado». As «fronteiras» entre as duas freguesias são permeáveis, em alguns sítios nem se sabendo, quantas das vezes, em qual delas estamos...Por curiosidade, estimulados pela promoção, andou-se a dar uma volta pela freguesia vizinha ... e até telefonámos a amigos que tínhamos ideia moravam em SANTA CLARA e não no LUMIAR - e confirmou-se, moram. É que o cartaz não o revela, isto é, não mostra os TODOS da freguesia. E foi por estes caminhos que exploramos o site do Festival ... E, naturalmente, desde já, associemo-nos à divulgação da programação.
«O TODOS - Caminhada de Culturas celebra, desde 2009, Lisboa como cidade intercultural através das artes performativas contemporâneas.
Promovido entre a Academia de Produtores Culturais e a Câmara Municipal de Lisboa, o TODOS tem contribuído para a destruição de guetos territoriais associados à imigração, convidando os públicos ao convívio entre culturas de todo o mundo, na capital portuguesa».
E para o presente ano:
«TODOS 2021 — acertar o Mundo em Santa Clara
Setembro 11-12 e 18-19
Santa Clara, a jovem freguesia de Lisboa criada em 2013, que chamou a si os antigos fregueses da Charneca e da Ameixoeira, é o novo território para o TODOS continuar a sua caminhada intercultural pela cidade. Rica em História e em estórias, que nalguns locais nos conduzem até ao Paleolítico, Santa Clara é um território-potência de possibilidades futuras diversas, tantas quantas as gentes que por lá vivem, oriundas de várias partes de Portugal e do Mundo. O tempo, no espaço descontínuo, disperso, contraditório e inspirador deste pedaço de chão da nossa cidade, metáfora perfeita do nosso Mundo atual, caminha imparável para pessoas e outros animais, numa tensão de velocidades desacertadas entre si. Há memórias passadas que se sentem, e pressente-se a inquietação de um futuro incógnito.
Paisagens inesperadas, ora rurais, ora urbanas, surpreendem o olhar do visitante. Palacetes e quintas românticas, moradias e condomínios fechados, coexistem com hortas, bairros remediados e bairros sociais limpos e cuidados. O silêncio dos campos deixa-nos escutar o grasnar dos gansos, o balido dos rebanhos, o relinchar dos cavalos, mas também as marteladas provindas das inúmeras oficinas de bate-chapas. E também o zumbido dos motores dos aviões, rasgando nesse vaivém do progresso a bucólica paisagem do passado, acalentando o sonho da viagem aérea por quase teletransporte, e transformando as descolagens e aterragens da pista número 1 do Aeroporto de Lisboa numa visão de rara beleza dessa sobreposição de tempos que ecoam em Santa Clara. (...)». Continue a ler.
Pois é, muito lido e cruzado, fica-se com a ideia que afinal a imagem que se passa não irá ao encontro do que se deseja: em síntese, não esgotando, acabar com os os guetos. Mas como grande sobra, do que o Festival TODOS nos diz parece que a verdade verdadeira aí está: O DÉFICE CULTURAL NA «SANTA CLARA» É UM FACTO. E todos estaremos de acordo que não será com um FESTIVAL, qualquer que ele seja, que se ultrapassa a situação. É preciso trabalho continuado, permanente e sistemático - como insistia o saudoso MÁRIO BARRADAS. PROFISSIONAL em articulação com o AMADOR - a coisa amada. Integrado e global. Com festivais e as restantes (e que resto!) iniciativas culturais e artísticas. A um tempo universais e locais. Ainda: por mais que tenhamos procurado não encontramos A ESTRATÉGIA DA CÂMARA DE LISBOA NA ESFERA DA CULTURA E DAS ARTES em que o festival se insira. Limitação nossa, eventualmente... E por mais meritório que seja o festival - e será, independentemente das criticas que se façam, nomeadamente quando o que está em causa é ainda a quantidade da oferta, objectivamente escassa, e inexistente em muitas áreas - sem isso o impacto dilui-se ...
Mas esta iniciativa terá uma utilidade óbvia nestes tempos de campanha eleitoral, nomeadamente para se contrariar a «inquietação do futuro incógnito» que se lê no texto do Festival - lembremos, de promoção conjunta da CML, e seria interessante saber quem faz o quê -, é de estarmos atentos aos PROGRAMAS dos Candidatos: é que o FUTURO CONSTRÓI-SE. Planeia-se, antecipa-se ...Projecta-se. E é neste quadro que olhamos para o que a CDU apresenta:
No que diz respeito à Cultura e às Artes:
Resumindo: tudo leva a crer que se a CDU sair reforçada nas próximas eleições, nas Freguesias de Santa Clara e do Lumiar, que são as que aqui estão «na baila», muito irá mudar no que à cultura e às artes diz respeito. E nós merecemos! PRECISAMOS DE ARTE E CULTURA TODO O ANO.
E isto anda tudo ligado, e há que sublinhar que em cada território há aquilo que compete ao ESTADO CENTRAL que como é sobejamente notado desconhece a(s) REALIDADE(S). Como ilustração olhe-se para isto da REDE DE TEATRO E CINETEATROS com que nos acenam e dizem trazer «a salvação da pátria da cultura e das artes»:
«NESTA FASE INICIAL DE IMPLANTAÇÃO DA RTCP, OS EQUIPAMENTOS CULTURAIS SITUADOS NOS CONCELHOS DE LISBOA E PORTO PODEM SER CONSIDERADOS PARA APOIO À PROGRAMAÇÃO?
Na sua fase inicial de implementação, os equipamentos culturais sediados nos concelhos de Lisboa e do Porto podem ser credenciados no âmbito da RTCP, mas não serão considerados para efeitos de apoio à programação, de forma a, assim, direcionar prioritariamente o investimento financeiro neste timing para realidades territoriais mais carenciadas em termos de recursos, projetos e dinâmicas culturais e artísticos». Tirado daqui.
Como se vê na Capital do País, como o ilustra a freguesia de Santa Clara, haverá situações tão carenciadas como no mais distante território... E como cá pela casa há «IDADE ADULTA» - designação que tomamos de empréstimo a Luís Raposo no artigo a que nos referimos neste post - com memória, lembre-se o que já se anotou, mais do que uma vez: a Rede de Teatros e Cineteatros em desenvolvimento não assenta em estudos com memória.Se assim fosse, por exemplo, saberiam que numa REDE desenhada em tempos de Paulo Cunha e Silva (que se diga não morria de amores pela expressão «Teatros e Cineteatros» e daí que isso também tenha contribuído para que à data se trabalhasse à volta de uma REDE NACIONAL DE ARTES que consubstanciava o SERVIÇO PÚBLICO neste domínio) também se «excluía» LISBOA E PORTO mas iriam ter tratamento próprio, ao mesmo tempo ... Ou seja, o conceito era bem diferente daquele com que nos mimoseiam agora. Embora alguns possam até dar-lhe leitura diferente a passagem seguinte do Livro de Fernando Mora Ramos a que nos dedicámos neste post estará em linha com o conceito da REDE que se ambicionava. E que nos perdoem se o têm por presunção: tem de acontecer, há-de acontecer ...
Já agora, a tal REDE que se estruturava lá atrás era gradualista, e até assentava em «Concelhos Piloto». E, sim, CALDAS DA RAINHA (onde está o TEATRO DA RAINHA) era uma das hipóteses ... Para uma das «modalidades».
E para terminar como começámos, com o TODOS, acabámos de reparar num pequeno cartaz colado numa das artérias fronteiras entre a freguesia de Santa Clara e a do Lumiar. Este:
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