Excerto: « (...) O Partido Comunista Português tem sido, porém, o único alvo a abater para que o 25 de Abril desapareça de vez da memória, consciência e vida dos portugueses. Digamos que o PCP é a última fronteira, a barreira que sobra para que o neoliberalismo fascista já instaurado nos planos económico e financeiro, graças ao eficiente aparelho policial de Bruxelas, tenha finalmente a sua correspondente política.
Daí que tenha valido e continue a valer tudo contra o PCP. Silenciamento do seu discurso e até da sua existência, deturpação ostensiva e constante da sua mensagem, calúnia contra as suas intenções, o seu programa e a acção dos seus dirigentes, o encorajamento e o apoio grosseiro do divisionismo à esquerda, a censura pura e simples, a agressividade, a manipulação e desigualdade de tratamento contra a sua campanha eleitoral.
Os exemplos recentes deste ramo essencial da estratégia golpista de inspiração fascista é o tratamento factualmente mentiroso e omisso das posições do PCP em relação ao problema ucraniano. A intoxicação mediática conseguiu o milagre de fazer crer que os comunistas portugueses estão ao lado do capitalismo oligárquico russo que, com a ajuda ocidental, arrasou a herança económica e social da União Soviética. Alcançar a quadratura do círculo é um feito só ao alcance dos que fazem da mentira, da censura, da liquidação do pluralismo e da liberdade de opinião o seu modo de vida. A defesa da paz na Ucrânia e em todo o mundo pelo PCP é interpretada como um apoio a Putin. Fazer do absurdo verdade é, desde sempre, uma trama do nazifascismo. Ao mesmo tempo, apoiar o regime golpista de Kiev é uma posição que, segundo o aparelho dominante, decorre da democracia. Isto é, a nossa democracia sustenta o nazismo, o racismo e a xenofobia dos nazi banderistas. Por estas e outras, não nos espantemos que as variantes do salazarismo somem 56 deputados no Parlamento, quase um quarto do hemiciclo.
A estratégia de fazer desaparecer o PCP da cena pública, apagando-o na comunicação social como caminho para o eliminar da política e do Parlamento, está em permanente movimento. Por ironia do destino, se o venerando chefe de Estado não tivesse inventado estas eleições – onde estão as provas das acusações ao primeiro-ministro cessante, António Costa, que espoletaram o processo? – e se não tivesse havido uma campanha eleitoral, o país ainda desconhecia praticamente que o novo secretário-geral do PCP é Paulo Raimundo e não Jerónimo de Sousa.
O apoio dado a correntes artificiais da esquerda fiéis à autocracia do europeísmo, do federalismo e de uma ecologia dolarizada à moda do Fórum Económico Mundial é outra estratégia orientada exclusivamente contra o PCP e aos seus aliados na CDU, de maneira a pulverizar votos e deputados nessa área. A mediatização, quase ao nível dos grupos fascistas, proporcionada a uma organização conduzida por indivíduos fala-baratos e sem ética política, como demonstraram anteriormente dentro de partidos que os acolheram e promoveram, é outra manifestação da falta de princípios própria da estratégia de vale tudo no anticomunismo. Ao mesmo tempo, a classe média urbana que o poder europeísta despreza sentiu-se contente da vida por poder votar numa «esquerda» fofinha.
Desenganem-se, porém, os sectores para quem o combate do PCP e da CDU depende da dimensão da sua representação parlamentar. A sua luta política e social extravasa em muito as instalações da Assembleia da República. Em mais de metade dos seus 103 anos de existência o PCP não teve lugares no Parlamento; quando citado na propaganda do fascismo foi apenas para ser caluniado; e, contudo, nenhuma organização contribuiu tanto para fazer amadurecer as condições que derrotaram o salazarismo. Não admira, portanto, que seja o alvo a abater pelo fascismo e os seus instrumentos «democráticos». (...)»
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Dadas as limitações apenas o destaque de abertura (mas se puder não perca, para concordar ou discordar, é sempre saudável encontrar artigos que não são, digamos, «preguiçosos») :«Do alto do seu ressentimento, o povo do PCP julgava que tinha uma superioridade moral, a superioridade moral da vítima. Ventura usa essa estratégia para uma nova geração. Portanto, é curioso que a extrema-direita use o termo “marxismo cultural” para criticar o politicamente correto da esquerda, porque o verdadeiro e letal marxismo – o ódio de classe social – é hoje a faca que o Chega usa para rasgar a sociedade portuguesa».
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