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... em termos de processos, só temos de «copiar». Porventura, também quanto a conteúdos - sem ser «copy/paste»
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... em termos de processos, só temos de «copiar». Porventura, também quanto a conteúdos - sem ser «copy/paste»
Jorge Salavisa morreu. Já não o vamos encontrar por aí: para trocarmos sorrisos; dizer palavras de circunstância comuns a um possível grupo que entretanto se iria juntando; e logo a seguir e de forma mais restrita conversar sobre a cultura e as artes numa perspectiva institucional que era o que mais o uniria a gente cá da casa, ou seja, do Elitário Para Todos. Já temos saudades. Já sentimos falta de mais esta referênica que nos deixa. O que de imediato retemos de Salavisa e numa perspectiva de Serviço Público de qualidade: se Jorge Salavisa estava lá, essa garantia existia, de maneira empenhada, ao mesmo tempo calma e apaixonada. E com elegância. Sabia, como ninguém, desenvolver actividades assentes em cumplicidades de trabalho universais ao serviço dos públicos e das organizações, e dos seus profissionais. Porque não podia ser de outra forma. E daí que tenha trabalhado com diferentes equipas, e apetece-nos dizer «tranquilamente», sabia na perfeição onde queria chegar.
Porque Jorge Salavisa era de excelência não admira que tenha sido chamado a Diretor da Unidade de Produção de Estado COMPANHIA NACIONALA DE BAILADO no primeiro Governo Guterres e assim dar corpo ao Decreto-Lei 245/97 :
Talvez estudar «Jorge Salavisa nas Administrações Públicas» e daí tirar ensinamentos para os PERFIS a que nos referimos aqui.
É verdade, temos a veleidade de pensar que as ARTES interessarão a todos e que o ESTADO através das Administrações Públicas deve para elas assegurar um SERVIÇO PÚBLICO como permanentemente se defende neste blogue. Assim, fomos procurar a PROPOSTA DE REVISÃO do modelo de financiamento anunciada em artigo de opinião ( ao que chegamos!) da Senhora Ministra da Cultura e a que depois se referiu a comunicação social (ver exemplo na imagem inicial), mas nada: nem no site da DGARTES, nem no Portal do Governo ... O que nos diz a isto Senhor Primeiro Ministro?, o que nos diz a isto Senhor Presidente da República?, o que nos dizem a isto Senhores Deputados? O que dizemos a isto todos nós ...
Aquando da grande revolta do setor na sequência dos concursos da DGARTES o Secretário de Estado de então manifestou-se muito admirado: tinha acolhido praticamente todas as sugestões que tinham dado, disse. Pois é, só terá contemplado dos que perguntou e esqueceu que o SISTEMA DE FINANCIAMENTOS tem de ouvir «os artistas», necessariamente, mas muito mais ... E estas coisas não são «copy/paste». Ouve-se e depois há que construir a POLITICA PÚBLICA ... que tem de reflectir tantos outros elementos. Mas isto é básico!
Entretanto, pelos vistos, a Governante de agora insiste no método.
Para começo: somos leitores atentos do blogue de Alexandre Pomar - e se nos é permitido, e caso não o seja, recomendamos, nomeadamente aos profissionais da cultura, que passem por lá, ajuda-nos a (re)construir memória que não temos e que é necessária ao desenho de politicas públicas na esfera da cultura e das artes, e na sua apreciação e critica. Depois, uma declaração de interesses: aqui no Elitário Para Todos a Lisa Santos Silva tem amigos que vêm do tempo em que trabalhou «na Cultura» - a seguir à revolução. Ainda a Cultura estava no Ministério da Comunicação Social, no Palácio Foz, onde, por exemplo, Helder Macedo, Eduardo Prado Coelho, estiveram Diretores, e David Mourão-Ferreira Secretário de Estado (por duas vezes) ... Depois, a Cultura autonomizou-se e foi para o Edificio «ao lado do Galeto» e a Lisa ainda aí esteve funcionária ... A seguir rumou a Paris, onde vive e trabalha talvez já vá em 40 anos ... E isto dirão não interessa a ninguém ... Posto desta forma terão razão... Mas se olharmos para estes dados à luz do post Instituições e artistas (ampliado do facebook), no blogue de Alexandre Pomar, talvez já seja outra coisa, e onde LIS será LISA. De lá salta uma problemática que a nosso ver urge estudar, que há muito defendemos, e que tem a ver com PERFIS PARA A CULTURA: Perfil dos Dirigentes sejam superiores ou intermédios, e dos técnicos nas Administrações da Cultura nomeadamente na Central. Necessariamente, teremos que ir ao passado, e estudá-lo, onde haverá épocas em que se destacará «um padrão» em especial no que diz respeito à hoje designada DGARTES, então DGAC - por exemplo, para as Direções de Serviço era uma coisa, para as Divisões outra ... E nestes dominios talvez olhar também para o que era defendido no primeiro Governo Guterres. O assunto era assunto, e mereceu critério. Hoje, perante o que nos é dado observar «o perfil» varia de concurso para concurso ..., conforme dá jeito, eventualmente em consonância com «fotografia» prévia de quem se quer no lugar ... E por lá ficarão dirigentes até haver «caso» e vir para as primeiras páginas dos jornais. O que se passa na atual DGARTES é paradigmático: Diretor-geral «em regime de substituição» por tempo infinito ..., e tudo corre como se estivessemos na maior das normalidades. E depois admiram-se que os populistas medrem.
Ainda:O que dizem os moradores e qual a história do Bairro Amarelo, aquele para onde Inês de Medeiros disse que iria viver já "amanhã" . De lá: «(...) Já o vereador comunista Joaquim Judas disse à Lusa que se tratou de uma afirmação “sem ponderar exatamente quais as interpretações”. “A senhora presidente da câmara é conhecida por ter, por vezes, declarações levianas, que misturam um certo populismo com algumas atitudes autoritárias que também a caracterizam. Está na mesma linha do que já tinha feito há alguns anos atrás, dizendo que morando em Campo de Ourique viria sempre para a Câmara de Almada de Cacilheiro, mas, como a experiência mostrou, isso não tinha pés nem cabeça”, mencionou. Neste sentido, indicou que o PCP “não valorizou” esta afirmação, inserindo-a “naquilo que é um estilo e uma forma de estar da senhora presidente”. “Neste momento o nosso desejo e o que temos trabalhado, mesmo na oposição, é para que se mantenha uma forte intervenção na área da habitação, respondendo às necessidades das pessoas e aproveitando aquilo que é o novo quadro”, referiu.».
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Atualizado.
Recorte:
«(...)
Rui Freire, baterista freelancer desde 1997, tem colaborado com vários artistas e projetos da cena musical portuguesa, entre eles Pedro e os Lobos e a cantora Rita Redshoes. Trabalha igualmente nas suas próprias bandas, onde é compositor. Para ele, como para muitos outros a crise bateu em cheio. "Ainda hoje estive a falar com um colega que não é músico, mas técnico, e diz que vai ter muita dificuldade. A partir de outubro, vai ser possível expulsar os inquilinos, cortar a água e a luz. Até agora, isso não era possível."
"Acima de tudo, estou surpreendido por a classe artística ter demonstrado algo que eu sabia, mas pensava que poderia mudar", acrescenta. "Não vejo esta classe a unir-se para arranjar alternativas. Se vivêssemos nos anos 90, esta pandemia não seria tão grave. Não poderias dar concertos, mas podias gravar e vender música. Um dos problemas que contribui para muitos músicos terem de mudar de profissão é que neste momento não há alternativa a tocares ao vivo. É uma grande injustiça. Se as pessoas consomem a tua música em casa, devias poder ganhar com isso. Mas o streaming paga pouquíssimo".
Com um bom número de concertos marcados para o verão, ele viu todos serem cancelados nos últimos meses. E quando iam finalmente recomeçar, foram os elementos naturais que intervieram. "Era para ter tocado na sexta-feira, mas por causa da chuva foi adiado. Tenho coisas marcadas, mas estou na dúvida se vão acontecer."
Apoios do Estado não resolvem a situação. "Uma pinguinha da segurança social, uma coisa muito mínima, e mesmo isso vai acabar agora", explica. "Podes continuar com outro subsídio, mas durante três anos ficas a pagar o que eles te vão dar agora. São 400 e tal euros por mês entre setembro e dezembro, salvo erro, e depois ficas a pagar 60 euros por mês à segurança social durante três anos".
Diz que não vai recorrer a esse esquema. "Sei lá que trabalho vai haver depois. Posso não ter nada e mesmo assim estar obrigado a pagar os tais 60 euros por mês. Sendo freelancer, não tenho direito a subsídio de desemprego. A lei é tão estúpida que tens direito ao subsídio se o teu trabalho for em grande parte para uma única entidade - ou seja, basicamente, se for um falso recibo verde. Um verdadeiro recibo verde, que já é por natureza mais precário, não tem direito."
Em suma, tudo são incógnitas. mas à partida as perspetivas estão longe de ser positivas. "Tenho ouvido gente a dizer que vai deixar a profissão. Depende muito do que se passar a seguir. O tempo que isto ainda durar, o dinheiro que vem da Europa".
Com as atuações ao vivo é que se pode contar pouco neste momento. "Concertos, só com muito pouco público. A regra é um terço, acho eu. Para os privados não é viável, portanto só existem os concertos organizados pelas Câmaras"».
José Oliveira Barata, Máscaras da Utopia. História do Teatro Universitário em Portugal. 1938-1974, Fundação Calouste Gulbenkian (396 p.)
Numa deambulação pela loja da Gulbenkian demos de frente com a obra da imagem: e como não trazê-la para aqui? E para os dias de hoje, e a propósito: qual será a politica pública para o Teatro Universitário, melhor, para o Teatro escolar em geral? Sobre o livro, procurámos na internet mais informação e pouco se ia encontrando até que chegámos aos «Caminhos da memória», e valeu a procura. Lá o texto lido pelo autor aquando da apresentação da obra. Termina assim:
«(...) A compreensão desse itinerário complexo e percorrido ao sabor do imediato, sem plano calculado, pode resumir-se à resposta de Camus quando o interrogaram porque fazia teatro universitário: «tout simplement parce que le Théâtre est un des liex du monde où je suis heureux».José Oliveira Barata».
Ao lermos o artigo da Senhora Ministra uma conclusão se impõe: a senhora governante construiu um discurso para si, tipo redação, que é desmontado com duas ou três questões, começando por esta: onde estão os ESTUDOS em que assenta? Diz que tem suporte no que «ouviu» mas parece só a quem perguntou ... Dá ideia que desconhece os que têm demonstrado que o sistema de financiamento às artes está esgotado - é ler o que existe no espaço público mas também o que agentes culturais escrevem nos seus relatórios, o que vem da Assembleia da República, o que acontece «lá fora» ... O que a Senhora Ministra adianta, na essência, é mais do mesmo em termos de conteúdo e de forma... Mais parece «uma prova de vida».
Por outro lado, mostrem-nos o balanço, a «história», das questões enunciadas, a reflexão havida, e as alternativas daí decorrentes. Uma vez mais o que nos é dado ler esquece coisas como estas - estruturantes de primeiro nível:
- Qual o orçamento para a Cultura e como foi determinado
- Criação de um verdadeito Ministério da Cultura
- Refundação da DGARTES que permitaum sistema de informação que alimente o trabalho das Comissões de Acompanhamento, e antes disso as politicas públicas, e toda a atividade de quem esteja interessado;
- Contratos estáveis, são fundamentais, na esfera do serviço público, e, digamos, isso já está na lei, mas quais são os referenciais que o Ministério segue para dimensionar vencimentos? Deixa isso ao sabor «do mercado»?
- Ah, e temos a «Rede de Teatros e Cineteatros» - rede que nunca existiu, e qual será «a memória» que a Senhora Ministra terá do assunto? -, e mais do que uma Rede de equipamentos precisamos de uma REDE NACIONAL DE ARTES em que o projeto artístico seja o organizador. Recuperar o que já se fez neste dominio e com bons resultados é capaz de ser aconselhável ... De facto a pergunta é: qual o SISTEMA DE SERVIÇO PÚBLICO que o País quer para as ARTES. Quantos Teatros Nacionais; quantos Centros Regionais; quando Projetos Municipais; ...
- ... e podiamos continuar. Mas o nuclear já está escrito por aí, e se levantado, cruzado, reunido, .... faria o mapeamento (material e imaterial) de urgência necessário à situação. Claro, para isso é imprescindível haver serviços, quadros técnicos em número suficiente, métodos de trabalho modernos, ... E depois que os Governantes leiam. Bem sabemos, é dos tempos: começar do zero é mais fácil. Como se não houvesse passado.
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Mas Senhora Ministra da Cultura, há que fazer coisas ao mesmo tempo - o estruturante e o imediato - e pelos vistos não sabe isto: por mais que insista no que fez em ambiente de pandemia, falta dizer que profissionais da cultura continuam com fome, e continuam a ser necessárias MEDIDAS DE EMERGÊNCIA. Caso contrário quando chegarem as «medidas estruturantes» o deserto será a perder de vista.