segunda-feira, 7 de junho de 2021

«(...)Não se compreende, portanto, que também o poder político, para além do mediático, se tenha mantido silencioso! Não houve os parabéns em público ou em privado e as homenagens que de imediato vemos recaírem sobre os “medalhados” de outras áreas. E Ana Luísa Amaral, ao ter ganho este prémio, fez mais pela internacionalização da cultura e da língua portuguesas do que muita acção de diversos organismos oficiais, desde o Instituto Camões ao AICEP, passando por muitos outros… por onde o silêncio também tem dominado (...)»

 


 (Se puder não perca o artigo a que se refere a imagem)


Excerto: «(...)Ana Luísa Amaral, ao ter ganho este prémio, fez mais pela internacionalização da cultura e da língua portuguesas do que muita acção de diversos organismos oficiais, desde o Instituto Camões ao AICEP, passando por muitos outros… por onde o silêncio também tem dominado. É que a poesia e a literatura, embora entrem frequentemente nos discursos dos poderes, continuam ainda a constituir apenas a cereja no topo para abrilhantar o bolo. Por mais discursos oficiais e oficiosos que ouçamos sobre o valor da arte e da poesia, esta última continua a ser tida como inútil, porque é tida por economicamente pouco útil. Mas que contributos preciosos ela pode dar para o nosso bem-estar, para exercitar a interpretação e o juízo crítico de que estamos tão carentes, para treinar o pensamento emocional sem a prática do qual não conseguiremos sair da “caixa” em que estamos enclausurados e que a pandemia tornou evidente aos olhos de muitos que estavam cegos! A poesia de Ana Luísa Amaral não acompanha modas e, sendo uma poesia de elevada erudição, tem a capacidade de integrar o pequeno nada do quotidiano e a maior denúncia da crueldade social. E faz isso incorporando a mais alta tradição poética ocidental e cristã, que transfigura e subverte, com a maior comunicabilidade poética que a aproxima de amplos públicos. Talvez seja esta eficácia poética única aliada à lente feminista com que olha o mundo e à prática de uma ética cidadã incómoda que explicam este manto de silêncio lançado sobre Ana Luísa Amaral. É lamentável e triste, porque com a sua arte, como toda a grande arte faz, dá-nos a beleza de que estamos muito falhos, obriga-nos a pensar e a projectar sentidos para o presente e para o futuro, ajuda a entendermo-nos e a atentarmos no outro igual, e diferente, ao nosso lado».



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