domingo, 20 de junho de 2021

LUÍS MIGUEL CINTRA | NO ÍPSILON | «Estou condenado a não poder trabalhar durante muito mais tempo. E é difícil habituar-me a outro sistema de trabalho. Sinto que vou à procura de projectos mais pequenos porque perdi um instrumento de trabalho fantástico que era o Teatro da Cornucópia»

 

 

Se puder não perca, no Ípsilon (18 JUN 2021), o trabalho a  que se refere a imagem. É de lá também o excerto do titulo do post. E ao ler-se o artigo percebe-se o quanto profissionais de Teatro podiam continuar a aprender com o mestre. E o quanto o público poderia ter continuado a partilhar  ... Não havia necessidade GOVERNO PS! Utilizando palavras do povo: como conseguem dormir com isto que certamente vai ficar para a história? Isto é, foi durante um Governo PS que a Cornucópia fechou ... Não nos venham com justificações ... A nosso ver (sim somos suspeitos, estamos entre os incondicionais da Cornucópia, do Luís Miguel Cintra e da Cristina Reis) serão todas pifias. A grande sobra,  falta-nos um SERVIÇO PÚBLICO DE TEATRO que reconheça os nossos melhores, dando-lhes as condições que se lhes ajustem ... Felizmente que há jovens sábios ...

 

Saiba mais sobre o espectáculo  no site do Museu da Marioneta. De lá:


«Este é um espectáculo que nasce do tempo do confinamento, quando o isolamento nos devolveu uma imagem sem disfarces do nosso quotidiano. Perante a ameaça da doença e da morte, perante a evidência de como o essencial da vida (as relações humanas) está camuflado no vazio do dia a dia que a sociedade que herdámos nos permite, não sentimos falta de cultura. Sentimos falta de alegria verdadeira, de generosidade, falta uns dos outros. Ficou bem claro que a cultura não é, como parece, distracção ou passatempo, não é riqueza, é a prática do que define um ser humano, o pensamento, o amor.

E tivemos saudades, lembrámo-nos doutros tempos, de coisas que tinham formado a  nossa personalidade. Lembrámo-nos do Dom Quixote de Cervantes, um dos grandes textos da Cultura Ocidental que todos julgam que faz parte da cultura geral básica de todo o mundo civilizado, aquela parelha que até tem estátua na Praça de Espanha de Madrid e que é emblema para o povo espanhol: Dom Quixote e Sancho Pança. Mas não, não é nesse molhado que chove (e chora) o espectáculo que daí surgiu. Com o trabalho de um Sancho e um Quixote nascidos da nossa amizade, tornámos os diálogos de dois dos mais famosos episódios desse maravilhoso livro num pequeno teatro íntimo, onde além dos dois anti-heróis maravilhosamente expostos na sua solidão, passam os actores de uma companhia ambulante. E um pseudo-diabo, um negociante que mostra um retábulo de marionetas que faz explodir a generosidade antiga do cavaleiro andante.

É um Pequeno Teatro ad usum delphini, um pequeno formato que fala do único assunto de todo o teatro: o ser humano. Aqui recuperando uma estalajadeira cheia de saúde e o prazer de formas já inventadas, como os caretos, o romanceiro tradicional ou os teatros de bonecos, de que ainda conhecemos como nobre exemplo os de Santo Aleixo. Fazendo conviver uma sanfona com um jovem baterista e dando ainda a ouvir algumas frases como esta: “a maior loucura que um homem pode fazer nesta vida é deixar-se morrer sem mais nem menos, sem ninguém o matar, nem outras mãos que o acabem a não ser as da melancolia”. É um conselho de Sancho ao seu velho amigo Quixote».


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