O caso concreto em apreço nem será talvez o melhor exemplo para esta reflexão. E isto porque tudo nele parece “atípico”, irregular ou mesmo ilegal. Nem de outra forma se pode qualificar um processo administrativo em que, contra todos os pareceres técnicos e até contra a orientação política, um diretor-geral decidiu de motu proprio atribuir licença de exportação com base em que uma classificação legal da obra não seria oportuna (ninguém sabe porquê), deixando ao mesmo tempo de estabelecer contactos negociais com os proprietários, tendo em vista a sua aquisição pelo Estado. O resultado será talvez, na melhor das hipóteses, que o mesmo Estado, ou seja, todos nós, irá despender significativamente mais do que seria previsível em termos de valores do mercado nacional. (...). E termina desta forma: «(...)Nem sempre os técnicos destas áreas gostam de falar em economia, mas fazem mal, porque primeiro ela não pode ser evitada e depois, sobretudo, porque nada terão a temer do confronto com outros sectores da vida em cada país. Muito pelo contrário: durante o Ano Europeu do Património Cultural, em 2018, recolheu o Eurostat um conjunto de dados muito impressionantes quanto à dimensão económica do património cultural: 200 a 300 mil milhões de euros em serviços ecossistémicos prestados, criação de emprego intensiva (26,7 postos de trabalho indiretos para cada posto direto, quando no sector automóvel por exemplo essa relação é de apenas 6,3), mão de obra local e de qualidade (profissões artesanais, hotelaria, restauração, etc.), etc. No caso português, imagine-se o que seriam zonas tão emblemáticas como Belém, em Lisboa, ou cidades inteiras, como Guimarães ou Évora, sem os seus museus e monumentos.
Internacionalização? Sim, antes de tudo dos museus, eles mesmos, que para isso dispõem em primeiro lugar dos acervos próprios, os quais lhe garantem relevância. Depois, deveriam também contar com uma política de promoção de grandes exposições de impacte internacional. Ora, esta, nunca foi realizada, porque quem a deveria promover se deixou cair em pesado torpor, dando rédea solta ao amadorismo e à falta de visão estratégica, aliados a uma espécie de “chico-espertice” bacoca de (pseudo)empresários e (pseudo)intelectuais irmanados na vontade dar nas vistas e fazerem uns trocos. Porque será, por exemplo, que em Lisboa, onde se situa o maior parque museológico do País, não existe uma única exposição de museu nacional incluída nas estatísticas das mais visitadas a nível mundial ou sequer europeu? E a primeira que surgiria, alargando o critério, seria uma no Museu Berardo, de há mais de uma década, que atingiu uma média de mais de 800 visitantes por dia? A pergunta poderia estender-se ao Porto e talvez a mais algumas cidades monumentais e museológicas portuguesas. Tivemos fogachos passageiros, em ocasiões celebratórias (as célebres “expos”), mas na verdade estamos fora dos circuitos das exposições internacionais, quando até temos anualmente para cima de 22 milhões de turistas estrangeiros. Porquê? É simples: porque aqui ninguém ousou ser audacioso e acabar com as capelinhas (serviços centrais do Estado, autarquias, galeristas, museus), programando com antecipação e plurianualmente exposições de grande impacte internacional, a ter lugar, rotativamente, nos diferentes museus nacionais. Poderá a recém-criada Museus e Monumentos de Portugal surpreender-nos também neste domínio? Veremos. Previsões só no fim do jogo, como diria o outro». Pela amostra, um artigo que é uma lição.
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Mas para nós ainda teve mais este «efeito secundário»: pegamos no texto de Luís Raposo para voltarmos a dois aspetos que muito nos ocupam aqui no Elitário Para Todos. Um relacionado com a GESTÃO PÚBLICA do Aparelho Estatal da Cultura, onde nomeadamente o PERFIL DOS SEUS DIRIGENTES; outro, com a necessidade (como acontece noutros Países) de na CULTURA se distinguir à partida o que tem a ver com O SERVIÇO PÚBLICO DE CULTURA e o que existe ao abrigo do MERCADO. Cada um tem a sua identidade mas não se podem ignorar. Bem vistas as coisas, são interdependentes. No conjunto, são o SETOR DA CULTURA. E, necessariamente, o SERVIÇO PÚBLICO, como sublinha PAULO RAIMUNDO, não pode ser um negócio (veja artigo da imagem abaixo). Alô, Partidos, digam-nos o que pensam destas matérias ... Ah, e talvez o ainda Ministro da Cultura nos possa dizer «qualquer coisinha» ... E pode até ser ao jeito de comentador, atividade que provavelmente irá recomeçar ...
Entretanto, tem cabimento trazer para aqui a intervenção na integra de Paulo Raimundo no Encontro com Trabalhadores da Cultura subjacente à noticia anterior. Até pela importância que a CDU está a dar ao SETOR na Campanha Eleitoral, sendo de assinalar, por exemplo, o repto lançado em direto na televisão pelo secretário-geral do PCP para que não seja esquecido nos debates :
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